quarta-feira, 31 de julho de 2013

O Dia Seguinte Ao Amor

Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leite fundo de nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus, entrelaçados

Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas
Encheremos o céus de vôos encantados!...

E as rosas da Cidade inda serão mais rosas,
Serão todos felizes, sem saber por quê...
Até os cegos, os entrevadinhos... E

Vestidos, contra o azul, os tons vibrantes e violentos
Nós improvisaremos danças espantosas
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!

terça-feira, 30 de julho de 2013

noite afoita, a foice

Enquanto tudo que eu queria era a sua presença, preenchi-me de vazios, resquícios de anestesia gelada, fraca.

Essa noite me mostrou a solidão coletiva, o copo cheio, cheio de nada que eu queria. Mas se não esquece, nem promete, pelo menos amortece.

No fim, tudo desacontece.

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Quero você. Apenas você. Não preciso de nada disso, nem quero, nem desejo.

Meu receio é vago, quiçá abstrato, mas minha saudade é concreta, palpável a ponto de poder, em meus sonhos, pegá-la em minhas mãos.

Mas que sonhos? Só divago com a distância em meu sono. A proximidade ainda está a cá, mas perene e difusa. É quase como Pinoli, faz diferença, mas não se faz notar.

Sei de tão pouco, mas sinto tanto.
Como também sabe, sei que te amo.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

E sim

Com certeza, o amor é o último laço que nos mantém conectados ao universo, a essa energia que flui por entre nós. É ainda esse sentimento que consegue segurar por si só os elos que criamos e alimentamos, mesmo que de forma capenga.

Portanto, é o amor que nos salvará. É nele que devemos mergulhar e fortalecer. É através dele que poderemos nos salvar.

E sim, te amo. Te amo mais do que tudo que já amei. Te amo mais disforme e imperfeitamente possível. Meu amor é errático, embevecido, mas cresce, engrandece, mesmo que tomando tudo à minha volta.

É esse amor que me salva e me protege da doença do mundo. É ele que realimenta minha vontade e fortalece meu desejo.

É você a responsável por esse amor. Por isso também que eu te amo.

Eu te amo muito.

Intransigência

Nosso mundo está doente. Não é muito difícil perceber, ligue a televisão e verá a podridão se espalhando por nossas consciências. Resta pouco ainda da nossa essência ainda viva, orgânica.

Estamos cambaleando por um caminho perigoso, esse das relações inorgânicas, dos hábitos mecanizados, das preferências higiênicas, das necessidades padronizadas. Quando antes achávamos reforçar nossas individualidades, as vemos hoje em uma grande pasteurização em massa.

Perdemos o contato com o universo, com essa energia cósmica que nos circunda e guia. Perdemos o contato com nós mesmos, com a essência que compartilhamos e criamos juntos. Estamos nos afastando do fluxo de energia que nos mantém vivos e, principalmente, ativos.

Estamos cada vez mais longe do que somos.

Estamos ainda mais distantes do que está a nossa volta.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Soma improvável

Nada é certo, muito menos a incerteza. Pouco sei, senão nada, mas que meu amor pulsa, se espalha e engradece, englobando tudo à sua volta. Minha vida não passa de externalidade, algo pouco, quase nada, quando comparada ao que somos.

O amor é a única soma em que dois são um, e que esse número é muito mais do que dois, mas o Infinito por si mesmo, possível, mesmo que impalpável, mas sim, tangível.

É, somos mais. Somos muito mais do que sabemos agora.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Estrela da Manhã

Estrela da manhã aparece ainda, com o dia, com a expulsão das nuvens tristes, com o céu forte esboçando esperança para o acordar. Estrela nova tão cega pelo próprio brilho. Estrela minha, me diga em mim o que eu sou realmente de você. Esnoba com um sotaque impermeável, uma fórmula nata de desfazer. Disfarça-se de santa, de muda, de adulta. Permuta os sonhos no mercado dos encontros e os vive como uma realidade psicodélica. Estrela viva, viva. Estrela sonora que bate e que canta, diga. É isso que lhe falta.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Balde de lama

Caí num balde de lama
Caí? Estive sempre nele.
Perdido, cego, sem querer ver
A sujeira da proximidade
A mentirosa amizade
A necessidade do não-ser

Não quero, não hei de sucumbir
Mesmo que com meus próprios braços
Do balde de lama hei de emergir
Talvez pútreo, mas digno.

Chega de ingenuidade.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A insônia ainda pulsa, mesmo que fosca. São as lembranças, e não mais os sonhos, que adoçam meu pensar, mas amargam as palavras que saem de minha boca.

O amor não deve ser questionado, quanto menos merecido. Se está lá, é legítimo. Ele basta por si próprio.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Ciclovias de nós mesmos


Fui dar uma volta de bicicleta hoje à tarde. 

Na volta, como a ciclovia estava vazia, resolvi tentar abrir os braços e me equilibrar apenas com as pernas. Consegui por alguns segundos, quase caí, mas me segurei. Da segunda vez, consegui por um minuto, quase caí novamente, mas me segurei. E assim fui repetindo a sequência, até que por fim tinha conseguido andar uns bons minutos sem os braços. 

Foi libertador sentir o vento batendo sobre meu peito aberto, os carros engarrafados ao lado, torturando-se com as mais diversas buzinas. A bicicleta é a maior expressão da vida por si mesma, cujo pensamento vazio enche cada milímetro do meu ser, aliviando todo o peso da existência. O absurdo desse mundo ganha sentido, mesmo que o vejamos embaçado.

Afinal, é assim que vivo, abrindo os braços, mesmo sob o risco de cair. No fim, acabo expandindo meus limites, almejando novas possibilidades. Decido tais ações sem muito pensar, ou mesmo imaginar a queda. Porque cair faz parte, levantar é inevitável. Temível é imaginar uma vida não vivida, repleta de decisões que decidi não fazer, realizações não realizadas, beijos não dados, energias não trocadas. Porque são essas experiências que nos engrandecem e nos levam para mais perto da plenitude.

Afinal, de que adianta sobreviver à vida sem que vivamos? 

Encontrei ontem um ancião na praia. Fui fazer perguntas, mas escutei silêncio.
Ele permanece deitado, dormindo ao canto de Iemanjá, a canção mais antiga do mundo.

Mas rio, Rio de Janeiro!
meu único bem
ao qual sinto pertencer
Queria que também fosse     .

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Carnaval de Karma

Sentei-me na esquina do avesso
Virei-me todo de lado
O valor nada me vale.
Tudo tem um preço?
Do carro à carne
Mas sou averso.
Ah assim mesmo
Mesmo contraditório
Repetitivo e simplório
Então, o que me vale?
Nada do que tenho tenho apreço.

Apalpei o escuro, senti sua nádega
Dai-me vinho, pois a vida é nada
Talvez café, pr'aquecer a alma
Esqueça, era só ferver a água.