sábado, 18 de setembro de 2010

Artigo - O "Panis et Circenses" do século XXI

Por algum motivo, esse artigo ainda não foi publicado em lugar nenhum...



O Brasil, hoje em dia, vive um período atípico de sua história política. O Presidente da República, há pouco tempo, atingiu excepcionais índices de popularidade, alcançando grandes figuras como Vargas e J.K.. A situação ganha cada vez mais força, a ponto de beirar uma hegemonização do poder pelos partidos aliados ao atual governo. A oposição não arrisca ataques diretos, diminui sua presença no cenário político brasileiro, além de sofrer de uma problemática crise ideológica de seus partidos. A que se devem tais fatos?

Não se pode deixar de destacar, obviamente, o crescimento econômico acelerado do Brasil nessa última década. Em uma economia cada vez mais forte, o brasileiro se satisfaz atualmente ao ver crescer seu poder aquisitivo em uma escala ascendente. Mesmo com uma crise mundial que afetou tragicamente todos os países desenvolvidos, sobrevivemos fortes à quebra do mercado norte-americano, sustentados por nossa própria economia interna.

A questão, no entanto, vai muito além da situação econômica. O atual governo, frente a escândalos graves de corrupção que ocorreram ao longo desses oito anos, perdeu a tradicional imagem de uma gestão ética e, assim, sofreu de uma crescente rejeição das classes mais conscientizadas, que compunham a maior parte de seu eleitorado. A solução, então, para manter Lula na Presidência da República foram duas:

1-Aliar-se profundamente ao PMDB, um partido fisiologista e sem ideologia, cujo único objetivo é perpetuar-se no poder, tendo inclusive apoiado outrora FHC.

2-Criar um sistema de “Panis et Circenses” do século XXI, desviando a atenção da população das questões fundamentais do Brasil, como ética, educação, saúde e segurança, para programas paliativos sem visão de longo prazo.

Podemos destacar o Bolsa-Família como um dos exemplos mais fundamentais dessas políticas. Com uma criação bem intencionada, junto a outras estratégias, a fim de que não mais fosse necessário ao fim de certo período, o programa foi desvirtuado em 2005, no ano do escândalo do mensalão, quase quadruplicando sua abrangência, ao mesmo tempo em que abandonava sua verdadeira proposta de inclusão social de fato da população carente, sem que mais precisassem dessa ajuda financeira.

Outras políticas foram utilizadas na elaboração desse sistema. Seus exemplos mais presentes são o PAC, cuja maioria das obras ainda não saiu do papel e os eventos esportivos que já foram ou serão realizados no Brasil (como a Copa e as Olimpíadas). Tais “conquistas” anestesiaram a população e provocaram um estado de euforia no país, enquanto nossas questões principais ainda estão mal resolvidas.

Não se pode dizer, obviamente, que essas políticas são essencialmente ruins, muito pelo contrário. Tanto o Bolsa-Família como a escolha do Rio para sediar as Olimpíadas seriam grandes oportunidades para o desenvolvimento social e econômico do país, se aliadas a uma visão estratégica de longo prazo, com investimentos maciços na educação e em outras áreas.

O problema, portanto, se dá na utilização desses programas e eventos como “Pão e Circo” do século XXI. Mesmo tenhamos uma população desfavorecida que não sente mais fome, um crescimento sensível da renda e dos empregos a partir dos eventos esportivos mundiais, nossas escolas continuam precárias, nosso sistema de saúde continua falido, nossa segurança continua permanentemente ameaçada e nosso sistema político continua alimentando a imoralidade de grande parte dos nossos representantes.

Essa criminosa rede nacional de manipulação, aliada a um crescimento notável na economia do país, sustenta os 70% de popularidade do Presidente Lula, responsabiliza-se pela expressiva intenção de votos de uma candidata governista que nunca disputou uma eleição na vida e é culpada por não vermos nenhum grande avanço social de longo prazo no nosso país. A população, porém, anestesiada pelo “Panis et Circenses” atual, nada fará para reverter esse problemático quadro. Afinal, esse é o incerto futuro que nos espera.