segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O riso é muito pouco para se falar de felicidade.

Mas não que não haja sempre algo de bom quando se sorri.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Devagar, divagando

A partir do puro complexo de um amor surdo, fiz-me cair distante de meus próprios olhares. Escorreguei por entre abertas pernas e, a duras penas, me deixei velar seu corpo apenas.
Soltei-me de tudo que me agarrava a mim, cambaleante levantei em direção à alta superfície
que só corria por si.

O vento hoje é meu canto de solidão.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Fertilidade complexa

Nota-se que temos essa fertilidade complexa de ser, pois somos de fato muito mais do que jamais fomos, ou jamais seremos.

Não basta sonhar, nós lembramos mais daquilo que nunca passou, nós vivemos mais aquilo que nunca foi experienciado por qualquer um. A todo instante engravidamos de nós mesmos, dando nascença sempre a um novo eu.

Somos muito mais do que cremos ser.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Queria eu de vez em quando saber falar de amor. Conseguir colocar em palavras talvez um pouco daquilo que sinto ou não sinto, até do que eu deixo de sentir para depois ter aquele sentimento em excesso, do qual peco por dele não saber dizer.

Quero quem sabe um dia saber ler as mais complexas partituras, dominar a linguagem da música, só para então bradar: algo a menos para desvendar. É besteira, eu sei, mas mais bobo ainda seria me manter nessa leitura lenta e cansativa, ainda que eficiente..

Acho, no entanto, que o que mais quero é voltar a escrever.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Não sei

Não sei o que ocorre, mas creio ter alguma infindável atração - intriga e inquietação aqui serviriam melhor - por determinadas mulheres que utilizam de uma força quase visceral em suas artes, de modo a atingir níveis de êxtase e qualidade que eu não consigo crer ser verossímil para um homem. Desconheço a origem de tal poder, creio advir das mesmas fontes da sexualidade individual de cada uma, mas também há algo que se compartilha nesse gênero que se assemelha à maternidade - ainda que não acredite que seja preciso ser mãe para que essa força exista, ela me parece intrínseca ao sexo feminino, e sem dúvida se manifesta muito fortemente nessas artistas.

Estão entre essas mulheres Björk, Francesca Woodman e Clarice Lispector. São três artistas cuja minha devoção se encontra focada, cada uma em sua respectiva área (música, fotografia e literatura). Admito dificilmente conseguir hoje em dia apreciar quaisquer trabalhos de um ou uma outra pessoa, mesmo eventualmente reconhecendo que também mereçam minha admiração. Simplesmente não consigo desprender meus pensamentos das melodias, imagens e períodos desses três fenômenos do universo que tanto me prendem a elas.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Do universo pop

Jogar referências pop não faz nenhuma obra boa, mas manipular clichês subvertendo sua significação, aí sim temos algo de muita qualidade. 

Inserir-se no universo pop para o transgredir em seguida é também excelente. 

Mesclar figurações pop com aspectos de outros universos é ainda mais maravilhoso. 

Mesmo com tantas amarras, há todo uma infinito de possibilidades que o pop nos estende com seu léxico. 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Mesmo que antes ricos, ambos meus casais de avós ficaram muito debilitados financeiramente a partir de 1991-2. Nasci em 1993, com minha mãe com 20 anos e meu pai com 23. A primeira estava desempregada, e o segundo tinha um estágio. Por muito pouco não morri logo após nascer, pois obtive uma doença respiratória ainda no útero de minha mãe.

Nos primeiros três anos de vida cresci lutando contra minha fragilidade de saúde, estando mais ou menos recuperado aos dois anos. Foi nesse mesmo período que minha avó materna morreu de câncer. Ao mesmo tempo, meus pais se mudavam conforme a situação financeira do meu pai permitia - e essa, instável como era, poucas vezes permitia alguma tranquilidade.

Até que de fato não houve jeito, meu pai perde perspectivas de emprego e tivemos que nos mudar para o interior do Maranhão, onde tínhamos uma parte da família paterna para nos acolher. Apesar de confortáveis, poucas foram as esperanças de crescimento do meu pai, e um ano depois nos mudamos para o interior do Rio, enquanto ele trabalhava na capital. 

Até que, um ano mais tarde, minha bisavó morria e deixava um apartamento na Usina para minha mãe. Mudamo-nos novamente, e passei boa parte dos meus sete aos onze anos naquele apartamento, frequentando finalmente um mesmo colégio regularmente, podendo fazer amigos.

Pouco tempo depois de nos mudarmos, meus pais se separam. E com isso, minha vida muda novamente, tendo que ir passar todos os finais de semana com ele e com minha avó. A vida continua difícil financeiramente, com meu pai em um emprego precário, sem perspectivas de crescimento.

Até que ele é demitido e decide fazer um mestrado. No entanto, seu curso se dá no Ceará, para onde se muda e começa a nos manter apenas com uma bolsa. Minha mãe, no entanto, se casa com um médico que, apesar de com problemas financeiros graças à sua ex mulher, tem uma melhor disponibilidade de recursos e, a cada ano que passa, respira mais aliviado ao final do mês. Ele, no entanto, pouco ou nada ajudou nas minhas despesas e de minha irmã.

Meu pai enfim consegue passar em um concurso público e volta para o Rio. Meu padrasto melhora suas condições e nos mudamos para Copacabana, além de que mudo novamente de colégio, para um melhor. Lembro da felicidade de finalmente ter uma televisão a cabo no meu quarto. Meu colégio, apesar de difícil, não representou grande dificuldade para mim, em nenhum de seus anos. Pouco foi o tempo que precisei para descobrir a fórmula de ser um aluno bem sucedido. 

Muito tempo passa, começo a fazer meus amigos mais duradouros, com os quais divido a vida até hoje, mas muito também muda. Minha mãe se separa de meu padrasto de modo absolutamente dramático quando eu tinha 14 anos, e passei a morar com meu pai, em Botafogo. Um ano se passa e muitas turbulências se acumulam na minha família, tendo inclusive que morar no Recreio por alguns meses. Foi também quando tive minha primeira namorada e perdi minha virgindade. 

Um ano se passa e tudo se estabiliza novamente. Minha mãe se muda para o Humaitá e volto a morar com meu pai. Dois anos que vão, e então é ele que se separa dessa vez. No entanto, ao invés de definitivamente, prefere um término de partida e volta que se estende por um ano, com minha mala em mão já sempre pronta para o quarto e sala de minha avó. 

Até que enfim ele compra um apartamento e tenho meu próprio quarto, pela primeira vez. Tinha 17 anos quando vi a finalmente perspectiva de total privacidade. Foi também quando passei no vestibular para tudo que um dia almejei, e pude me livrar daquele ambiente tão ruim que era meu colégio. A mudança para a faculdade foi um grande passo rumo à liberdade, mas também uma grande decepção. 

Hoje, apesar de nesse meio tempo conseguir me manter sozinho, ganhar meu próprio dinheiro, me sinto estagnado naquele mesmo dia do meu último parágrafo. Ainda que tenha podido finalmente respirar, sinto a urgência pela mudança, que se dá por ensurdecedores gritos  nas maiores profundezas de minha alma. Nunca me acostumei ao conforto, mas a me manter mudando. No entanto, você me encontrou no momento em que ainda estava respirando. 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Questões que nunca resolverei

Afinal, o poder, tal qual ele é hoje, é um crime?

Poderiam aqueles em hierarquias superiores nas injustas instituições reformá-las? Ou a verdadeira mudança se dá apenas de baixo para cima?

É possível um Papa/Presidente dos pobres? Ou ele está apenas dialogando com aqueles que os aprisionam na pobreza?



segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Enquanto sufocado esperava, sua mente transitava, como se também acorrentada, naquela prisão de calor e umidade que ofegante respirava. Não era intensão rimar.

- Sorte nossa perdermos boa parte da vida nessas miudezas - seu pensamento assim se esboçava.

Ensaiou levantar-se, mas se percebeu preso ao feltro da cadeira pela camada de suor que colava suas costas à manchada camisa que amaldiçoava usar. De quando em quando ria de sua própria miserável condição, cômica de tão patética imobilidade. Estava aprisionado por nem ao menos saber se desejava mover-se. Em algum momento, no entanto, sabia que o chamariam. O momento, no entanto, parecia ainda marinar por entre algum ponto distante de um tempo líquido que ele sabia não poder beber, pois sua garganta se fecharia com um grito surdo de medo. Era alérgico ao tempo.

Por vezes passava ligeiro seu olhar por entre as miudezas daquele cômodo, àquelas a parecer tão ansiosamente desejar que aqueles desmomentos de vez caíssem com seu peso sobre o desagradável ambiente, como se eternamente esperados. Em raras ocasiões ensaiou dirigir-lhes qualquer palavra de desagrado ou enfado, talvez até um comentário sobre uma nova tragédia matinal, mas sua voz minguava ao se empurrar pela língua, chegando à miudeza daquelas com as quais teria falado.    

Sentia enfim algo a adentrar a sala, empenhada com um frio pesado a se colocar em volta da vaga luz branca que porcamente iluminava o ambiente. Era a noite que entrava, como se tímida, a se mostrar por suas sutilezas. Encarava-a com um misto de curiosidade infantil e apatia, mas se aliviou com a redução do calor.

- Até que horas ficarei aqui? - perguntava-se desinteressado

Voltou a olhar aos números vermelhos que se prostravam diante da pequena multidão enfileirada naquela diminuta sala, todas na mesma monotonia fria, ainda que de quando em quando algum tipo resolvesse falar no celular, quebrando o ensurdecedor silêncio protagonizado pelo fraco mais barulhento ventilador no teto. Sem grande surpresa, percebeu que seria o próximo a ser chamado.

Não demorou muito mais até que os números que retirara algumas horas antes aparecessem no painel, fazendo-o se levantar de seu já eterno retiro, chegando em direção ao guichê indicado. Como se sua espera tivesse sido tão banal quanto um cisco no olho - o que tinha acontecido durante aquele tempo - a mulher por trás do balcão lhe estendeu a mão segurando enfim o que viera buscar. Voltava a ter então sua identidade.




Cuidado ao jogar as cartas para mim, amor
Perco a vista nos distantes futuros a navegar
sobre o mar de sua lágrima, salgada,
que me liberta, mas também me ancora
Nessa pesada rocha que, de tão leve, me fez fluir
Para ti.