sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Devaneio

“Os ricos dizem: sejam discretos, que talvez eles não percebam. Os pobres dizem: façam barulho, quem sabe eles percebem”. 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

"É que eu me distraio muito"

Somos a urgência de um ensurdecedor silêncio, diante de diversos ruídos dispersos, como se fumaça tóxica profundamente inalada.

Não sou, mas aparento, um eterno reflexo da imagem que tanto desejo suprimir, um acaso, um fervor que borbulha sob a fria tampa de vidro grosso. Por devaneios e frenesi, divago, eterna e internamente, implodo, mas imploro por explosão. Urro baixo, bato infantilmente os pés, mas me vejo sobre água rasa, escura.

Pausa.

Pausa para deixar de ser, para colocar outra palavra, me afundar em linguagem torpe e, quem sabe, esquecer o que sou. Não sou, mas aparento.

Fragmento líquido de um todo sólido, telhas sob céu aberto que vagarosamente caem, chuva forte sem nuvens escuras, me desmancho ao me molhar. Luz que cega mas aquece, desejo o calor ou prefiro a visão? Tremo de medo das palavras, desses símbolos trêmulos de frágil acesso, bordas claras de um caminho curvo.

Desgosto do escuro.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Apenas estando longe de si mesmo é que possível se aproximar de alguém.

O distanciamento é o primeiro longo passo para o autoconhecimento, além da proximidade para com outrem.

Sair de si, diga-se assim, é se libertar das primeiras amarras do egocentrismo, se desacorrentar da própria perspectiva para saborear mais livremente os sentimentos compartilhados, esses que só se manifestam em união.

Deixando-se de ser um, abre-se a primeira porta para sermos dois, ou quem sabe mais.

A redundância didática está na necessidade de compreender o mesmo conceito por diversas palavras.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Minha curiosidade está na distância, no pouco entendimento que tenho de tudo. A miopia não está apenas na visão, mas também na compreensão do horizonte.

Meu desejo de saber o que se passa em pensamento vem da extrema dubiedade dos sinais que são passados, ou mesmo da falta de capacidade de interpretação de minha pessoa. Tanto um quanto outro validam, ao meu ver, meu anseio.

Não digo que preciso saber de tudo. Afirmo, no entanto, que minha vontade se extende para além da necessidade, mas sim da totalidade de sentimentos que gostaria de conhecer para poder assim, quem sabe, compreender.

Tudo é uma reação. Toda reação é um sentimento. Toda reação provoca um sentimento.

Somos muito por sermos tão pouco.

Divagar é preciso. Quanto mais refletir.

Não pretendo saber o que é o ódio ou o rancor. De sentimentos como esses, prefiro me ater à ignorância.

Erro, julgo mal e, justamente por isso, tento julgar pouco. Não vim ao mundo para criticá-lo, mas para aprender com ele.

Estou tão perto da plenitude quanto a abstração está próxima ao concreto. O absoluto é tão real quanto a falsidade do relativismo. A moral é algo a se desconstruir logicamente, apenas para se prender mais a ela. A lógica é tão ridiculamente frágil quanto a própria existência.

Ser pleno é ser o que se deseja, conhecendo tudo que é possível ser.

Para se alcançar a plenitude, é preciso primeiro amar.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Dois

O futuro é o presente que não chegou, por isso nossa tamanha ansiedade, como crianças esperando o Natal.

Não há futuro para mim. Não pela falta de esperanças ou perspectiva, mas tudo que almejo hoje é supérfluo, marginal comparado ao que estou vivendo. Estou concentrado demais desfrutando o presente que já tenho para esperar ansioso por aquele que ainda não chegou.

Ansiedade é passado, amor é o maior presente de todos. 

Personagem 2

A densidade do seu toque, tão leve quanto forte, assim tensiona minha torta alma, em desfalque cavalar. Tudo roda, tudo gira, apenas eu permaneço parada, nessa que mudança estática, sádica.

Por que me vejo tão pequena quando lembro de você? Mesmo sabendo que estou em minhas lembranças, sou vaga, quase um detalhe na sua presença, que se expande, adentra meu pensar. Sou pesada, com necessidade de ser, mas me sinto tão muito pouco ao lembrar do que fui contigo. E pior: assim repouso em serenidade, sem mais nada precisar.

sábado, 7 de setembro de 2013

Personagem

Perco-me no peso da sua voz, que se expande em espaço ínfimo, infinito, dentro de mim. O ar tóxico de seu suspiro ainda bate em meu pescoço quando sonho, quando pesadelo de sua presença. Ainda não sei o que sinto, sinto dizer. Nem sei se gostaria de saber. O ambíguo, assim, torna-se mais que desejável, mas necessário à minha sanidade, ao meu talvez querer.

Talvez devesse querer menos, talvez o que eu queira seja demais ou muito pouco. Inadequado é sempre o que quero, mesmo sentindo que fosse tudo isso, seria pouco, muito pouco.

Vejo depois tudo uniforme, lateralmente. Mas você tudo une, em massa disforme, móvel, tensa. Creio na unidade de sua onisciência sobre mim, desnudando minha mente que nem eu nunca vi despida. Sua presença queima aqui dentro, como fantasma sólido, que adentra transcendentalmente meus interiores, mas com prazer carnal. Meus sonhos são a matéria que você molda a sua bel vontade.

Mas ainda pesa, sua voz. Seu cheiro lento ainda me atrai.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Nostalgia Reversa

Não tenho muita intenção de escrever algo muito bom dessa vez. Escrevo agora para registrar - quem sabe para a posterioridade - a minha felicidade hoje ao lembrar de certas coisas do passado, e ver onde estou agora. É muito bom ver antigos amigos fazendo o que sempre sonharam, conquistando seus sonhos pouco a pouco, e sentir que eu também estou caminhando pela estrada certa.

Estou hoje como nunca estive: calmo, alegre, sereno e impulsivo. Sigo minha vida sóbrio, mas sem perder a paixão de viver. Não preciso mais estar bêbado para me sentir leve, não preciso mais estar entorpecido para pensar fora da realidade. Sinto-me cada vez mais harmonicamente integrado com tudo à minha volta.

Sinto-me, talvez, cada vez mais quem eu sou de fato.

Essa nostalgia reversa que me acomete agora, com essa saudade projetada de hoje, lembrando do ontem, é algo que eu nunca experimentei antes. É algo totalmente diferente e único, algo que não creio que vá se reproduzir novamente. É e não é ao mesmo tempo, está por um triz em sua imensidão imperativa, colocando-se imponente mais firme do que a probabilidade.

Sigo, pela primeira vez, confiante.


domingo, 1 de setembro de 2013

Silêncios

Esses silêncios, tão barulhentos
Tão cheios de sentimentos

Não preciso de som para ouvir as ondas que batem de mim e voltam por ti. Os silêncios hão de preencher os espaços que existem entre a proximidade e a unidade, o chão e a superfície, o céu e o horizonte.

Não preciso de visão para ver a luz que emana de seus olhos. A luminosidade há de se mesclar com os silêncios, se entrelaçando em nós que nos libertarão nessa sintonia orgânica, tantas vezes dinâmica.

Enquanto a felicidade escorre por entre essas pernas, eu descanso em mim mesmo, aos poucos percebendo o que é preciso para sair do que sou e chegar aonde quero ser. É esse breve limiar que ainda falta, tão distante quanto o mar e o céu.