segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Sobre o amor (e também não sobre ele)

Depois de 24 revoluções terrestres em torno do Sol, minha vida, já tendo passado de seu primeiro quarto de tempo na Terra, já deveria ter me ensinado muito, senão quase tudo do amor.

Ainda assim, acredito ter finalmente aprendido que a natureza desse sentimento tão profundo é justamente não ter natureza: não há forma definida, expressão certa, nem mesmo é sempre possível identificá-lo com clareza.

Da mesma forma, não há tempo para que ele apareça, muito menos quaisquer condições que induzam a sua chegada. O amor é essa urgência que vem arrebatadora, sem aviso ou notificação. Pode até vir disfarçado e, quando percebido, será impossível não se fazer presente.

Se é possível, portanto, aprender alguma coisa sobre o amor, é que não se aprende nada com ele. Tal sentimento, eterno metamorfo, acabará sempre por te surpreender de alguma forma.

Talvez seja isso mesmo que o torne tão fascinante e, por vezes, tão doloroso.


terça-feira, 18 de julho de 2017

Requiem por cinco sentidos

Quando o Sol raiar, espero ver seu rosto
Seus olhos que iluminam meu quarto, minha vida
Tal como os primeiros e mais belos raios da manhã

Quando tudo passar, espero ouvir sua voz
Sua fala que acalma meu dia, minha alma
Tal como as primeiras e mais belas músicas da manhã

Quando você acordar, espero sentir seu corpo
Seu toque que acende minha vontade, meu desejo
Tal como as primeiras e mais belas fantasias da manhã

Quando tudo mudar, espero beijar seu pescoço
Sentir seu cheiro que perfuma minha cama, minha memória
Tal como as primeiras e mais belas flores da manhã

Quando eu levantar, espero te dar um beijo
Sua língua que passa nos meus lábios, meu corpo
Tal como os primeiros e mais belos sonhos da manhã

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Eu olho para o céu

Lua que brilha sobre o mar profundo
Ilumina o caminho do cardume que nada
Tão pouco que veem o caminho à frente
Caem em devaneio em meio ao nada

Os sonhos que tenho que me abraçam
Não hesito e aceito o calor do afago
Por vezes me perco nesses tantos braços
Sinto-me confortável neles que laçam

sábado, 3 de junho de 2017

Outros tempos

Foi quase um ano de mudanças e adaptações.
Quase 12 meses olhando para mim mesmo e ao meu redor
Foi quase um ano pensando em tudo que fiz de errado.
Quase 12 meses de auto tortura silenciosa.

Mas passou.

Esses são outros tempos agora.
Esses são os tempos de novos pensamentos.
Novos encontros e desencontros.
Tempos da renovada leveza do meu ser.

O arco dessa temporada finalmente começou.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Tá tão tarde

Tá tão tarde, não é mesmo?

Me causa gargalhadas quando penso nisso tudo.

A mudança é tão assim, permanente, que parece que tudo que fica, vai.

E tudo que vai, fica.

Assim tudo segue, na mudança perpétua, imutável.

Tá tão tarde, não é mesmo?

Entre o erro e o azar

Tem vezes que sua vida toma rumos totalmente inesperados devido aos seus erros no meio do jogo. Você se frusta, mas entende aonde tudo deu errado.

Outras vezes, porém, a frustração vem por puro ignóbil azar - aí não há nada que explique tamanha mudança em relação ao planejado senão talvez alguma sádica ironia do destino.

Entre o erro e o azar, a vida segue, pronta para novas rodadas.

domingo, 16 de abril de 2017

No início de Agosto

Edifício assim, pesado
Arranha o céu de estrelas
Edifício, cinza, sem cor
Feito de concreto gelado

Foi no início de Agosto
Que se ergueu um Edifício
Desde então, Edifício assim
Só eu vejo, a contragosto

E vai passar uma estação
para o primeiro aniversário
Edifício, às vezes frio
E chegará ao centenário

  

domingo, 9 de abril de 2017

A(in)daptação

Hoje acordei cedo, como de costume, e decidi pegar minha bicicleta.

Tornei meu domingo um dia de hábitos. Toda semana, nesse dia, pedalo pelo menos duas vezes pelo Aterro do Flamengo, terminando o trajeto na feira da Glória, onde religiosamente compro meu gomo de tapioca, suco de abacaxi com hortelã, batata doce e por vezes uma caixa de uva, tudo junto por menos de 20 reais.

Termino a manhã comprando um açaí no Hortifrutti do lado da minha casa. Chegando, faço uma faxina, escrevo no quadro minhas tarefas para a semana e brinco um pouco com a Mia. Até as duas, termino todo esse percurso para poder, enfim, pensar no que fazer durante o dia.

Nunca fui a pessoa mais tagarela da minha família ou círculo de amigos. Pelo contrário, sempre expressei melhor minhas opiniões e sentimentos por meio da palavra escrita do que falada. Creio que isso tenha por vezes incomodado aqueles à minha volta.

No entanto, o silêncio que experiencio quando acordo no Domingo até o fim da minha faxina é algo para o qual eu nunca fui preparado. Por mais que troque alguns "bom dia"s, ou palavras avulsas com quem estiver me acompanhando na pedalada, meu existir até a tarde é silencioso. Ainda que pudesse ser um devir contemplativo ou reflexivo, seu hei de ser se basta pela pouca necessidade de troca de palavras nas atividades realizadas.

Já faz quase seis meses desde que vivo assim, mas ainda acredito estar em uma eterna fase de adaptação. Tudo que sinto nesse meio tempo parece transitivo, como se líquido, um rio a correr rumo a algum destino.

Há momentos em que concluir é o que devo menos fazer.
Olho em volta e vejo esse vazio volvendo meu devir.


domingo, 12 de março de 2017

Enquanto Mia, minha gata, me observa virando sua cabeça na minha direção, deitada em cima do meu short jogado no chão do quarto, escrevo esse texto após assistir a uma temporada inteira de Love, no Netflix.

Love é uma série despretensiosa, mas que conseguiu capturar com graciosidade no início - e crueldade no fim - o relacionamento de duas pessoas quaisquer. Com seus episódios lentos, retratando o dia a dia de cada um, fui testemunhando o acúmulo de erros de ambos um com o outro, as brigas estúpidas, o afastamento progressivo, até descambar na inevitável separação do casal.

 Às vezes ainda me impressiono com a capacidade de destruição de fortes laços com tão evitáveis e desorientadas ações, aparentemente facilmente contornáveis, mas que no fim acabam por capturar absolutamente tudo no relacionamento, de modo que no fim se torna impossível voltar ao ponto de onde tudo estava dando certo.

A vida nos traz esperanças e sonhos quase que naturalmente, mas sem aviso prévio, e cabe a nós apenas torná-los realidade. Todos os fracassos subsequentes das tentativas ao longo dos anos nos tornam mais sábios, mas possivelmente também mais amargos.

Não resta mais dor, apenas arrependimentos.
Não há mais saudade, apenas nostalgia.
Não há mais amor, apenas sua lembrança.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Começo de temporada

No final do ano passado, grandes ciclos da minha vida se fecharam, e dando lugar a outros novos. Quase tudo que eu entendia como parte de mim chegou a um desfecho, de modo a dar início a uma outra grande fase em minha vida.

Agora, nesse momento, sinto esse primeiro trimestre como um começo de temporada, ou início de um livro de franquia, no qual ainda estão se apresentando os novos elementos e reintroduzindo os antigos. As tramas principais, a narrativa da história, estes ainda estão por começar.

Eu, é claro, ao perceber isso, não pude deixar de ficar ansioso pelo fim dessa fase de minhas novas histórias. Impaciente que sou, já me cansei da calmaria desse começo de temporada.

Que venham logo os erros e problemas, porque quero enfrentá-los.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Disse que não escreveria aqui mais.

Naquele momento, sentia-me no fim de um ciclo que, depois de tanto dedicar esse espaço a você, seria preciso encerrá-lo quando encerramos nossa história.

Mas do que vale a história frente a um sentimento permanente?

Do que vale o fim de um ciclo diante de um espaço infinito que se segue sendo o que ainda persistentemente sinto por você?

Hoje me é possível conviver harmoniosa com essa sua estranha ausência ao meu lado. É-me possível até ficar exultante com sua bem sucedida trajetória longe de mim.

Não há do que me libertar. Não estou preso a esse sentimento.

Escolhi mantê-lo comigo. Aprendi a ser feliz com ele.