quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O homem é um não-ser imperativo.
A mulher é um ser intraconectivo.

A interação dual de ambos gera a energia que conhecemos como luz.
Sonhei que encontrava minha professora de Português numa festa. Falávamos sobre a vida, até que ela disse:

- Mas você se tornou economista não por querer, não é? Lembro que você queria ser escritor.

- É, mas posso escrever também na economia - eu respondi, confiante.

- Mas eu li seu artigo. Ele não está bem escrito. Seus textos de 2010 são muito melhores.

Não sei por que sonhei isso. Sei que fiquei arrasado, enquanto sonhava e depois de acordado. A vida parece querer me alertar o tempo todo que estou seguindo o caminho errado, e eu continuo teimando nele.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Quarteto de dois

Flor ardente de cor mutável
Não deixe seus espinhos lhe tomarem
As pétalas que, de tão belas, envergonham-se
De tão ofuscante beleza, dessas únicas na natureza.

Ah, amor resistente, de tons fortes, tensos e claros
Não deixe esse orgulho, que lhe é tão caro
Quebrar o espírito forte que cultiva
Desde o longo início da vida.

Corpos embevecidos de amor e desejo
Não se afastem nem por um segundo
Deixem a energia fluir por seus seios
Sintam na pele toda verdade do mundo

Fraqueje, se for preciso, mas não desista
Chore, se apoie, deite a cabeça em meu ombro
A felicidade é só nossa, pois então resista
Saiba que seu sofrimento é o meu, hoje, e sempre.



segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O sistema é mau, mas...

Há cerca de um ano (talvez um pouco muito mais) tenho focado meu tempo de estudo e reflexão para as iniquidades sociais no Brasil. Quando mais eu aprendo, mais eu vejo o fosso no qual estamos inseridos, mais eu percebo o quanto ainda temos muito que fazer para tornar nossa sociedade minimamente convivível.

Mas muito mais do que fazer, o que eu percebo a cada dia é que temos que mudar. Mudar nossa consciência, nossos preconceitos, nossas ignorâncias. Derrubar nossos sensos comuns, nossos complexos de vira lata e nossas vitimizações auto depreciativas (o Brasil não vai pra frente... 1- porque o povo é burro 2- por causa do jeitinho brasileiro).

Temos também que afastar de nós essa ideia de progresso, de "Brasil pra frente", de desenvolvimento como unica e exclusivamente crescimento da quantidade de bens e serviços produzidos no país. Afinal, não é por sermos pobres que temos pobreza. Nossa pobreza é endêmica, sistêmica, institucional e externamente necessária ao funcionamento do modelo sócio econômico que seguimos.

Não consigo entender como as pessoas não vêem que nossa desigualdade, que vai além da renda, não é consequência disso ou daquilo, mas é um sintoma da nossa sociedade extremamente hierarquizada. O que temos que derrubar são as hierarquias, porra!

O sistema é mau, mas não necessariamente minha turma é legal. Minha turma e eu somos parte dessa iniquidade e constantemente a reproduzimos. Somos o que somos por razões de berço, mas cabe a nós mesmos o processo de mudança, que é lento, penoso e provavelmente mau sucedido, ou pelo menos incompleto.

Vamos fazer um filme.

Mudança indesejada

"Fôssemos infinitos 
Tudo mudaria 
Como somos finitos 
Muito permanece".


Não poderia contraditoriamente discordar e concordar mais com esse poema. Quem sabe uma reescritura possa melhorá-lo.

"Fôssemos infinitos com nós mesmos
Tudo mudaria de dentro para fora.
Como somos socialmente finitos 
Muito sempre permanecerá"


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Ver para crer

A verdade é um véu transparente
que colocam ante a mim
Acreditam impedir minha visão
Mesmo que feito de cetim

Ah, o pouco que desconheço
é parte de detalhes diversos
Não muda o ângulo convexo
Nada muda tudo que vejo.

Faço-me como a desentender
A ler ficção no realismo cru
Apenas por não saber o que fazer
Diante de delicado Rei Nu.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Núcleo Comum

Como massas rochosas a se atritar
Placa tectônica que não sai do lugar
Formamos um núcleo comum em nosso ser
Compartilhamo-nos ao de frente nos bater

Somos cinética energia do atrito
Resistimos a nós mesmos destruindo
antigas resistências de outrora
Fissuras que se abrem e fecham sem demora

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Muito, muito brega.


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Desafios humanos

Para além dos direitos, creio que ainda restam muitos desafios à humanidade para consigo mesma. Hoje, temos uma liberdade formal extensa, mas parecemos querer continuar ligados a certas restrições.

A sociedade tem medo de sua intimidade, evita sua própria individualidade pessoal. Olhamos sempre para para o nosso exterior, com críticas e julgamentos, mas acabamos por evitar o desenvolvimento próprio.

Em primeiro lugar, devemos escapar dessa lógica higienista de homogenização estética da sociedade. A arte hoje se encontra em crise conceitual devido a esse ideário de objetividade da beleza.

Depois, devemos parar de olhar para o conceito "feminino" com olhar masculino. Isso deve acabar, não podemos mais suprimir nossas liberdades criativas apenas para preservar um fator de identidade sexual subjetivo, sujeito a mudanças e altamente opressor.

Por conseguinte, devemos destruir esse mito da verdade científica como única verdade. A ciência não é a única resposta e não pode assumir esse caráter absoluto e fundamentalista que tem avançado sobre toda a sociedade. Nunca faremos as perguntas certas se acreditarmos que há apenas um modo de se chegar à verdade.

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A desigualdade não deve ser entendida apenas em seu nível econômico, mas também sobre sua perspectiva cultural e artística. Até aonde nossa capacidade e liberdade de expressão está condicionada às nossas hierarquias sociais? Difícil.
Sou fruto daquilo que você semeou em mim.
Nascituro de ventre disperso, uivante, espero
Cresci nadando na própria lágrima, que
apesar de escassa, adensa todo meu ser.

O pesar engloba meu pensamento,
de tão pesado que me é pensar
Envolve-me em tantras cênicos
De beleza sutil, mas cavalar.

Sou fruto de mim mesmo
Frutificado apenas por ti
Amniótica lágrima, penso
me proteger mais assim.



sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Solange

Uivos dos mais quietos à noite
Desses que ensurdecem aquele que já não quer mais ouvir.
Visando a navalha cega
Cujo áspero corte transpassa o tecido extenso, assim.

Ah sim! Disse Solange
Exalando maestria naquilo que não se joga.
O Coito afirma, mestre é aquele
que já não quer jogar nunca de novo.

Pesada prensa essa sobre a mente
Arrastados os segundos aos quais me prendo
passando lentos por tudo que disse
Construindo barreiras com próprio cimento.

Ah não! Disse Solange
Anão é o antropófago de si mesmo
Canibal de suas membranas
Cuja víscera escorrega por sua boca.

Que piada, Solange.



segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Pro dia nascer feliz

Cheguei à sexta feira com um estranho sentimento de inadequação. Parecia-me inadequado eu estar ali, onde fosse, fazendo aquilo, o que fosse, contanto que eu estivesse sorrindo. Sorrir parecia inadequado. 

Uma sensação de despertencimento ao bem-estar, um certo peso à la slut-shamming (perdão pelo inglesismo). 

No entanto, após um final de semana de altos e baixos sentimentais, acordei hoje como se estivesse se iniciando o fim de um ciclo em favor de outro. 

O azul do céu interrompido por poucas belas nuvens, o brilho do Sol a repousar sobre toda superfície descoberta, tudo isso me abriu os olhos para como a vida - apesar de seus defeitos e imperfeições - pode sim ser boa. Não é preciso ter vergonha de ser feliz. 

Com uma aula que não se realizou, aproveitei para andar pela praia de Botafogo, admirando toda a beleza desnuda dessa cidade, a ouvir a mais bela voz da mais bela cantora desse (meu) mundo. 

O dia hoje nasceu feliz. Graças ao Sol e à Björk. 

sábado, 12 de outubro de 2013

947 coisas atormentam uma alma. Uma alma atormenta outras 639.

Não sei porque, mas a cada dia que passa é mais e mais difícil estabelecer um contato. Sempre que os vejo, quero lhes dizer: olhem! Vocês não estão percebendo? E a resposta é sempre muda.

O silêncio é o atormento daquele que só fala, mas é a inspiração para aquele que geralmente diz alguma coisa.

Silêncio é o vazio que preenche a alma. O amor é o cheio que esvazia os tormentos.