domingo, 26 de dezembro de 2010

Se beber, não...

Acho que, até agora, o acontecimento mais marcante das minhas férias foi o corte na minha mão.

Em uma estúpida disputa com o Erik pelo último gole da torre de chopp, quebrei o copo em cima da minha mão e levei sete pontos.

Agora tenho 15 pontos por todo o corpo, 7 na mão, 3 na testa e 5 na barriga (apêndice).

Dá até a impressão de que sou um cara vivido. Não, sou só um idiota mesmo.

De qualquer forma, já tenho duas viagens programadas para essas férias, e mais uma em fase de planejamento. Se tudo der certo, terei viajado para Cachoeira de Macacu, Ilha Grande e Floripa ao fim desses dias de vagabundagem.

Meus objetivos até o início da universidade são: 1- Ler o suficiente para saber mais do que todos os calouros. 2- Dar um fim a essa minha fase assexuada (que voltou). 3- Tirar o aparelho. 4- Colocar lente. 5- Convencer meu pai a pagar Aliança Francesa para mim.;

Se eu conseguir tudo isso, serei um cara satisfeito em Março.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Tendências

Esse é o post número 40 desse ano. 40/12 = pouco menos de 4 e mais de 3. Ou seja, escrevi pouco esse ano.


Mas vamos direto ao assunto: tendências.

Estou dizendo de tendências geográficas. Por exemplo, morei boa parte da minha vida em botafogo. E, com amigos do mesmo bairro ou de perto, fiquei em um grupo do tipo mais rock: roupas escuras (ou, no caso do lui, coloridas), música em excesso, pouco uso de shorts, etc...

Mas, morando em ipanema, sinto em mim mesmo a influência do bairro sobre meu estilo. Tenho usado roupas mais brancas, minha pele está bem mais escura, estou usando shorts, etc...

Mas ainda moro no humaitá (bem perto de botafogo), então também sofro influência desse bairro. Portanto sou um cara bem meio-termo.

A questão é: Ipanema é o melhor bairro para o dia, Botafogo para a noite.

Ok, não falei nada com nada. Foda-se, to gostando dessa vida.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Orgia mental

Sempre gostei dessa expressão, orgia mental. Retrata bem minha mente em seus dias de pico. De vez em quando uso até em contos meus, mas não consigo demonstrar bem o efeito do estado.

Há pouco tempo, tenho voltado à orgia mental (que descarrego no blog, como se pode perceber), por isso gostaria de explicar mais ou menos o que seria isso.

Minha mente trabalha geralmente a uma velocidade maior do que a velocidade do mundo normal. Por isso faço contas rápido, escrevo rápido, leio rápido, acabo provas rápido, etc... Qualquer atividade que demande uso do meu intelecto eu vou terminar mais cedo do que a média. Obviamente, isso não quer dizer que eu farei direito, apenas mais rapidamente.

Agora imagine uma mente trabalhando tão rápido que nem ela mesma consegue processar todas as informações que está produzindo. Imagine um conjunto de imagens, situações, pensamentos, tudo se confrontando em diversos choques em intervalos de tempo impossíveis de contabilizar. Imagine sua mente levando mais de três linhas de raciocínio ao mesmo tempo e você passando de uma para outra em uma velocidade que você consideraria impossível.

É mais ou menos isso. O problema é que eu não consigo pensar em nada direito, fica todo pela metade, ou pior, pelo terço. Acabo cheio de pensamentos inacabados e não consigo fazer nada direito no mundo exterior.

Mas o pior é a noite. Se não passo toda a madrugada lendo (e, sinceramente, de vez em quando enche o saco), acabo na pior das insônias possíveis. Fico me remexendo na cama, batendo nas paredes, metendo a minha cara no travesseiro. Para me acalmar, faço das três uma (ou duas): ouço música, venho escrever no blog ou me rebaixo à necessidade bestial do homem pelo prazer animal.

Eu sei, isso foi desnecessário. Mas você é que veio ler o texto. Espero que agora, pelo menos, entenda um pouco o que é o meu estado de orgia mental.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Divagando eternamente (não recomendado para aqueles que nunca passaram pela adolescência)

Passei no vestibular, é isso. Já sabia que aconteceria.

Agora, uma nova vida, uma nova rotina, tudo novo, menos eu.

Eu continuo o mesmo, e mesmo que venha a me mudar fisicamente durantes essas férias (já comecei a malhar em academia, vou começar vôlei de praia, em janeiro vou tirar o aparelho e vou aproveitar para colocar lente), serei esse mesmo preguiçoso, reservado, às vezes animado, às vezes deprimido, Daniel Duque.

Durante toda a minha vida tentei entender quem eu era e me aceitar desse jeito. Creio ter obtido sucesso na primeira parte.

Não sei se é a adolescência, aquela insegurança comum, aquele desejo de me autoafirmar, mas não consigo estar satisfeito comigo mesmo.

Exemplo melancólico:

Ontem foi a minha formatura. Ouvi depoimentos de muitos professores e alunos, alguns inspiradores, outros enfadonhos. Tenho certeza de que poderia ser melhor do que muitos deles. Faltou-me iniciativa, faltou-me vontade. Mas, assistindo à apresentação, senti inveja.

Depois veio a festa pós-colação. Um lugar, graças a Deus, perto da minha casa, cuja cerveja custava 8 reais. Vi grandes amigos, amigos nem tão amigos e desconhecidos. Todos pareciam melhores do que eu. Todos pareciam estar satisfeitos, felizes. Me senti mal naquele lugar, não parecia pertencer a ele.

Fui embora relativamente cedo (eram quase 5 da manhã, mas ninguém tinha ido embora ainda), fui dormir e acordei sem vontade de sair da cama. Ensaiei um convite aos meus amigos de ir à praia, mas desanimei logo, além do que todos tinham o que fazer. Se alguém da Nove estiver lendo isso, me perdoe, pois não tive nenhum almoço com meu avô hoje, era desculpa para não ir à reunião. Passei o dia em casa vendo televisão e lendo. Nem vontade de pensar eu tinha.

Então vim pra cá desabafar, embora eu saiba que ninguém, ou quase ninguém, vai ler isso. É um desabafo para mim mesmo, ou quem sabe? para o vazio da internet. Não importa, recorrer a esse blog sempre me acalma um pouco, como se estivesse escrevendo em um diário (irônico, não?).

Queria mudar, mas não sei por onde começar minha mudança. Acho que vou permanecer sempre assim, em uma eterna frustração comigo mesmo.

A adolescência é uma merda.

Ignorâncias à parte

Acordo com o sol a se pôr
Durmo com os primeiros raios de luz
Vivo no escuro da minha dor
Vagando indeciso na própria cruz

Penso tantas possibilidades
Escrevo em minha mente mil futuros
O papel se rasga em mil pedaços
Antes de se poder ler o conteúdo

Ignorâncias à parte, tento entender
O que ninguém consegue explicar
Porque é tão fácil de esquecer
O que não consegui terminar

sábado, 4 de dezembro de 2010

Fases

Sou uma pessoa de fases, disso eu nao tenho dúvida. Embora talvez a maioria das pessoas não perceba, meus pensamentos mudam constantemente de direção e, quando havia pouco tinha uma ideia, um objetivo, um desejo defino, nesse exato momento me transfiguro em um ser pensante completamente diferente.

Obviamente, isso tem reflexos na minha vida pessoal. Quando no início do ano minha meta era testar a vida ao máximo, hoje prefiro o conforto da segurança. Quando nesses primeiros meses de 2010, minha vida se destinava às mulheres, nesse fim de ano pouco me interesso por entrar nesse jogo chato de sedução.

Mas, sinceramente, não gosto dessa fase pela qual estou passando. Sinto minha vida parada, murchando. Sinto-me exatamente como esse verão: abafado, estático. Queria sair um pouco disso, dar outro rumo aos meus planos. Quero me surpreender, quero mudar, seja para melhor ou para pior.

Só preciso de um impulso.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Análise dessas eleições (for dummies)

Esses parentêses só querem expressar que não vou fazer nenhuma tese de doutorado aqui.

O que eu penso sobre a vitória de Dilma? Que não vai além do esperado, tendo em vista os mil erros do PSDB nessa campanha.

1- Serra é ainda muito associado ao governo FHC, que teve uma baixa popularidade no final de 2002. Por isso, a campanhas mentirosa das possíveis privatizações em um governo Serra deu certo.

2- Serra tem naturalmente cerca de 40% de rejeição, ou seja, não seria votado de jeito nenhum por quase metade do eleitorado brasileiro.

3- O PSDB se pautou nas pesquisas eleitorais, que davam vantagem à Serra em relação à Aécio nas eleições. O problema dessa análise é que as próprias pesquisas se mostraram infiéis no primeiro turno e a maior parte do eleitorado não conhecia o candidato de Minas à época (como Dilma).

4- Tanto Serra quando Dilma subestimaram o poder de Marina Silva. Caso tivesse previsto um melhor desempenho da candidata do PV, Serra poderia desde o primeiro turno começado a articular uma maior aproximação com Marina contra Dilma. O que se viu, infelizmente, foi o contrário.

5- Nem Serra nem o PSDB percebem o quanto a imagem do DEM está desgastada. O melhor seria transitar para uma aliança com mais partidos menores, mas com menos rejeição do eleitorado.

Agora, o que eu acho que vai ser do Brasil? Acho, em primeiro lugar, que as coisas não mudariam muito com Dilma ou Serra no poder. Os dois são desenvolvimentistas ferrenhos e não fariam grandes alterações no cenário atual. Talvez eu esteja errado, mas listarei aqui o que vai acontecer:

1- Desde o início, o PT vai começar uma rixa pelo poder com o PMDB e Dilma não terá muita capacidade política de lidar com essa disputa. Será, sem dúvida alguma, uma aliança frágil.

2- O PSB se tornará um aliado mais forte da área menos fisiológica do PT, aumentando a tensão dos partidos.

3- Uma vez que Dilma não é Lula, o PSDB, o DEM, o PPS, o PMN, o PSOL e o PV (que antes era governista) farão oposição mais dura ao governo da petista.

4- As eleições para prefeito serão uma maluquice, como tem sido ultimamente. As alianças serão as mais bizarras possíveis e o fisiologismo reinará. O PSB e o PDT crescerão ainda mais, partidos pequenos como o PV e o PSOL cresceram modestamente, o PSDB, o PT e o PMDB se manterão estáveis e o DEM se enfraquecerá de novo.

5- Haverá uma crise econômica exclusivamente no Brasil. Com a formação de um mercado interno por crédito subprime, uma hora os bancos vão apertar e a "nova classe média" não terá condição de pagar suas prestações. O problema vai ser que o governo, dessa vez, não poderá ajudar, pois estará enrolado na sua própria dívida interna.

6- Não sei como vão resolver essa crise, mas Dima sofrerá as consequências. Em 2014, teremos 3 nomes fortes na política: Aécia Neves, Marina Silva e o próprio Lula, que voltará como salvador da pátria, no melhor estilo getulista.

C'est ça.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pedido de desculpas

Peço desculpas às nenhumas pessoas que lêem esse blog. Esse curto, porém intenso período pré-vestibular tem me tomado mais do tempo que eu mesmo disponho.

Anuncio aqui, portanto, a minha volta ao meu blog.

Parte final de "Vitória do Pronome Possessivo"

Ela levantou-se e de pé ficou por alguns instantes. Preparava-se para sua saída, já sem temor de qualquer reação. Ele, no entanto, fez o mesmo movimento e, pela primeira vez no dia, subiu o olhar à mulher. Seus olhos vermelhos de raiva refletiam o ódio que sentia naquele momento.

- Feliz aniversário de casamento – proferiu sua voz rouca, sentenciando a última prisão.

Daquele silencioso ambiente ouviu-se o derradeiro estrondo e, antes que a mulher pudesse perceber, estava deitada ao chão, com a cor rubra a cobrir-lhe os seios. Ofegando naquele ar tóxico, sua mente desfocada procurava entender o que havia acontecido. Agarrou-se a qualquer sentimento de esperança, enquanto o escarlate do pecado envolvia-a por inteiro.

Enquanto assistia à vitória do mais poderoso e possessivo pronome, o homem pensava:

“Nunca foste livre. És, e sempre serás, minha.”

“Minha.”

sábado, 18 de setembro de 2010

Artigo - O "Panis et Circenses" do século XXI

Por algum motivo, esse artigo ainda não foi publicado em lugar nenhum...



O Brasil, hoje em dia, vive um período atípico de sua história política. O Presidente da República, há pouco tempo, atingiu excepcionais índices de popularidade, alcançando grandes figuras como Vargas e J.K.. A situação ganha cada vez mais força, a ponto de beirar uma hegemonização do poder pelos partidos aliados ao atual governo. A oposição não arrisca ataques diretos, diminui sua presença no cenário político brasileiro, além de sofrer de uma problemática crise ideológica de seus partidos. A que se devem tais fatos?

Não se pode deixar de destacar, obviamente, o crescimento econômico acelerado do Brasil nessa última década. Em uma economia cada vez mais forte, o brasileiro se satisfaz atualmente ao ver crescer seu poder aquisitivo em uma escala ascendente. Mesmo com uma crise mundial que afetou tragicamente todos os países desenvolvidos, sobrevivemos fortes à quebra do mercado norte-americano, sustentados por nossa própria economia interna.

A questão, no entanto, vai muito além da situação econômica. O atual governo, frente a escândalos graves de corrupção que ocorreram ao longo desses oito anos, perdeu a tradicional imagem de uma gestão ética e, assim, sofreu de uma crescente rejeição das classes mais conscientizadas, que compunham a maior parte de seu eleitorado. A solução, então, para manter Lula na Presidência da República foram duas:

1-Aliar-se profundamente ao PMDB, um partido fisiologista e sem ideologia, cujo único objetivo é perpetuar-se no poder, tendo inclusive apoiado outrora FHC.

2-Criar um sistema de “Panis et Circenses” do século XXI, desviando a atenção da população das questões fundamentais do Brasil, como ética, educação, saúde e segurança, para programas paliativos sem visão de longo prazo.

Podemos destacar o Bolsa-Família como um dos exemplos mais fundamentais dessas políticas. Com uma criação bem intencionada, junto a outras estratégias, a fim de que não mais fosse necessário ao fim de certo período, o programa foi desvirtuado em 2005, no ano do escândalo do mensalão, quase quadruplicando sua abrangência, ao mesmo tempo em que abandonava sua verdadeira proposta de inclusão social de fato da população carente, sem que mais precisassem dessa ajuda financeira.

Outras políticas foram utilizadas na elaboração desse sistema. Seus exemplos mais presentes são o PAC, cuja maioria das obras ainda não saiu do papel e os eventos esportivos que já foram ou serão realizados no Brasil (como a Copa e as Olimpíadas). Tais “conquistas” anestesiaram a população e provocaram um estado de euforia no país, enquanto nossas questões principais ainda estão mal resolvidas.

Não se pode dizer, obviamente, que essas políticas são essencialmente ruins, muito pelo contrário. Tanto o Bolsa-Família como a escolha do Rio para sediar as Olimpíadas seriam grandes oportunidades para o desenvolvimento social e econômico do país, se aliadas a uma visão estratégica de longo prazo, com investimentos maciços na educação e em outras áreas.

O problema, portanto, se dá na utilização desses programas e eventos como “Pão e Circo” do século XXI. Mesmo tenhamos uma população desfavorecida que não sente mais fome, um crescimento sensível da renda e dos empregos a partir dos eventos esportivos mundiais, nossas escolas continuam precárias, nosso sistema de saúde continua falido, nossa segurança continua permanentemente ameaçada e nosso sistema político continua alimentando a imoralidade de grande parte dos nossos representantes.

Essa criminosa rede nacional de manipulação, aliada a um crescimento notável na economia do país, sustenta os 70% de popularidade do Presidente Lula, responsabiliza-se pela expressiva intenção de votos de uma candidata governista que nunca disputou uma eleição na vida e é culpada por não vermos nenhum grande avanço social de longo prazo no nosso país. A população, porém, anestesiada pelo “Panis et Circenses” atual, nada fará para reverter esse problemático quadro. Afinal, esse é o incerto futuro que nos espera.

sábado, 28 de agosto de 2010

Artigo - A ameaça do "Estado-pai"

Esse artigo foi escrito por mim no dia 27/08/10. Já está no site www.oglobo.com.br/opiniao/ e logo será postado no site www.debatesculturais.com.br

Desde a independência da América Latina, herdamos de nossos antigos colonizadores o mesmo sistema econômico-social controlado pelo Estado, que perdura ou deixou resquícios em todos os países do continente latino-americano. Tal sistema, antagônico ao adotado pelos Estados Unidos desde a independência das treze colônias, é consequente de uma visão de mundo autoritária, na qual a instituição do Estado, sob a ilusão de representar o povo, determina o papel dos indivíduos na sociedade e limita o poder da economia a si próprio. Tudo isso a custo de taxas e impostos extremamente altos.

Não são poucos os efeitos de tal sistema: manipulação da vontade popular através do voto, corrupção, populismo, eventuais ditaduras, entrada no governo como único meio de ascensão social, além da instabilidade da política e da economia, sujeitas às vontades pessoais dos Estadistas. A propaganda Estatal e o controle da imprensa, porém, perpetuam esse sistema e, ainda pior, o popularizam, instituindo-o muitas vezes como “Estado-pai” (que seria melhor chamado de Estado-rei).

Sob o falso pretexto de defender os interesses do povo, esse gigantesco Leviatã consome a renda da população, gere mal os recursos e fecha a economia do país a seus desejos, inibindo investimentos internos ou externos. Com políticas econômicas frágeis e na maioria das vezes mal formuladas (dado o fraco entendimento dos governantes nesse assunto), o crescimento econômico pode se iniciar acelerado, mas ao longo do tempo mostra-se ineficiente e frágil, fardando o país a um atraso monstruoso em relação a regiões mais democráticas.

No Brasil, esse fenômeno pode ser exemplificado na figura de Getúlio Vargas, embora desde a independência soframos dessa doença crônica. O presidente e ditador assumiu o poder logo após a crise de 29, na qual findavam-se rapidamente os recursos mundiais e os governos se apresentavam como únicas instituições ainda capazes de realizar investimentos. Depois de uma acertada política econômica, que incentivava a industrialização com ajuda externa, Vargas deu continuidade ao seu modelo de desenvolvimento mesmo após o fim da Segunda Guerra Mundial, aumentando assim as barreiras aos investimentos no país, enquanto todos os outros as quebravam na Conferência de Bretton Woods. O pior, todavia, foi que os governantes posteriores deram continuidade a essas políticas nacional-desenvolvimentistas, levando o Brasil à década perdida de 80.

Esse quadro, felizmente, foi gradualmente revertido a partir da Constituição de 1988, que limitou o poder Executivo e aumentou a autonomia dos municípios e estados. A partir daí, com a implantação do modelo neoliberal, o “Estado-pai” foi enfraquecendo aos poucos, a economia brasileira foi crescendo cada vez mais e, através da combinação dessa reforma político-econômica com as características naturais do país, o Brasil hoje atua no Mundo não mais como passivo, mas como potência emergente.

Por isso, é com grande temor que vejo um novo levante do “Estado-pai” na América Latina, a chamada “Onda Rosa”. Condenando o neoliberalismo pelas crises mundiais, através do populismo e de práticas assistencialistas, os “pais” e “mães” do povo controlam cada vez mais a política e economia de seus países, aumentando os impostos, o poder central e, assim, inibindo a democracia e o crescimento econômico sustentável.

Nesses últimos dez anos, por exemplo, o Brasil aumentou em 20% os impostos sobre a população, sendo que desses mais de dezesseis são do Governo Federal. Com o aumento da intervenção Estatal na economia brasileira, o país tem crescido pela manutenção do Plano Real, mas já apresenta sinais de fragilidade, como a diminuição brutal do superávit primário e o crescimento assustador da dívida interna.

Aonde esse perigoso retorno irá nos conduzir, somente o tempo dirá.

domingo, 22 de agosto de 2010

Crime do artigo - 1° parte

Frio, era o que sentia.

Deitado em seu leito solitário, acordou junto ao Sol, que tímido se levantava sobre as últimas horas da madrugada. Sentou-se à beira da cama, vendo o vazio do céu sem nuvens, fazendo-o lembrar da falta de lembranças da noite passada. Seus sentidos em sinestesia denunciavam a exuberância do exagero, resultando na falta de foco da mente, além da confusão entre a dor que sentia e um estranho sentimento de culpa que abatia sua consciência.

Levantou-se e de súbito sentiu a tontura atingindo-o em um golpe inesperado. Segurou-se ao que viu mais perto e lutou para permanecer de pé, atrapalhado pelas pernas, fracas como se ainda adormecidas. Sem saber o motivo, os bambeios lhe acusavam um crime sem seu conhecimento, mostrando-se provas irrefutáveis do pior pecado cometido. O problema estava na falta de um objeto a ser acusado, pois não havia lembranças indicando o delito.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Masturbação política...

Às vezes, me sinto empolgado ao extremo com a política.. Vou a palestras, manifestações, passeatas, já falei com muitos políticos: gabeira, chico alencar, alessandro molon, ìndio da costa, alfredo sirkis, etc... E participo, incentivo as pessoas a participarem, escrevo, por aí vai.

Por outro lado, às vezes fico incrivelmente desacreditado e chateado com a política... Acho o povo brasileiro sem solução, os políticos todos inescrupulosos, não me dá vontade de escrever, nem de participar de nada.

Sou muito volúvel em relação a isso.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Vergonha

Seu rosto ardeu quando a mão pesada da vergonha desceu-lhe à face, marcando-a com a raiva da incompreensão. E, apesar de sua força para não chorar, as lágrimas insistiram em lhe escapar aos olhos, não pela dor, mas pela tristeza de um sentimento reprimido.

- Nunca mais me envergonhe dessa maneira - disse sua mãe, com os olhos vermelhos de ódio.

As palavras pesaram como chumbo ao entrarem nos ouvidos de Helena, envolvendo-a em uma manta de horror. A morte vagava pelos arredores de sua alma, já sem vontade de viver.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Saudades

Saudade é sentir o cheiro sem provar
É ver o mar sem nele mergulhar
É ter papel e caneta sem poder escrever
É saber o que pensar, mas não o que dizer.

Saudade é se sentir incompleto
E de como se completar, você está certo
É saber de um livro que não se pode ler
É lembrar de você sem poder te ver.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Trecho blá

Cansada, parou e deixou-se deitar por alguns instantes. Suspirando pesadamente, fechou de leve as pálpebras e, para sua surpresa, percebia que, finalmente, conseguia enxergar. Quando antes o mundo passava por seus olhos e ela nada via, naquele momento sua cegueira extinguia-se rapidamente, revelando a vida por si só, sem remendos ou fantasias. Pela primeira vez, ela sabia o que era ver e não olhar.

Seu corpo nu suava lágrimas de felicidade. Enquanto seu espírito agitava-se em labaredas diversas, seu exterior parecia pedir nada senão descanso. Estava inebriada, como se sofresse de uma overdose de uma droga tão forte que paralisasse todos os seus membros, mas acelerasse seus pensamentos a um nível em que nem ela própria conseguisse acompanhá-los. Mas tanto era lindo quanto angustiante. Sentia perder o controle sobre si mesma, sem nem ao menos desejar tê-lo de volta.

domingo, 18 de julho de 2010

Ah, les françaises...

J'aime le français.
Mais qui ne l'aime pas? Le français est une langue très jolie et belle. En fait, la France en tout est un pays très jolie et belle. Qui ne l'aime pas?
Un chose je sais: si il y a quelque lieu pour vivre qui n'est pas le Rio de Janeiro, ce lieu est Paris.

Lição de moral

Se toda lágrima que caísse por alguém fosse valorizada em função do quanto está sentindo a pessoa que chora, haveríamos de molhar menos o chão.

Às vezes nem mesmo vale a pena escrever palavras belas, pois é tudo bonita fantasia que esconde a realidade. Se quiser a verdade, vai sofrer com ela.

A questão é que o valor de nossos sentimentos não é colocado na balança quando vamos agir. Isso é simplesmente monstruoso. Se for errar, pense no que o outro vai sentir.

Nossos sentimentos deveriam ser mais valorizados. São eles que nos levam a cometer nossos piores atos. Podemos nos machucar por causa deles, não só nós mesmos, mas também outros. Podemos morrer e matar por causa deles. E você não vai dar valor a isso?

Esqueça todo o externo. O que está dentro nós é o que temos de mais valioso. Guarde isso com carinho e lembre-se que o que você tem também tem aquele ao seu lado.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Só pra explicar

esses últimos "poemas" são só fruto do meu tédio.
coloquei eles aqui porque, de fato, não tenho nada mais interessante pra fazer.

Incerteza

Não sei quem me disse,
mas foi quem me viu
disse me ver andando,
reparou que estava chorando.

Nem sei quem me disse,
mas foi quem me ouviu
disse me ouvir sonhar,
ainda sentiu meus sonhos ao ar.

Na verdade, não era eu
que estava chorando
muito menos sonhando.

Quem me viu ou ouviu,
trocou-me por ti, amor,
mas quem diria, pois?

Nossos sonhos e lágrimas se compartilham.

Certa vez, acredite

Certa vez, me disseram
para acreditar em tudo,
na linda beleza do mundo,
e só por isso acreditar.

Certa vez, me disseram
para perseguir meus sonhos,
lutar por meus desejos
sim, foi isso que fizeram.

Não bastou muito, cresci.
Até vi que "certa vez"
muitas vezes não era tão certo
E que nem tudo que me diziam era verdade.

Já me disseram e disseram,
por certas e erradas vezes,
acreditei sem me perguntar
se o que me diziam era o que eu queria escutar.

Sonhei, lutei, sofri
Por fim, aprendi.
Certa vez, podem me dizer,
mas dessa vez, não vou acreditar.

domingo, 11 de julho de 2010

Mentiras e verdades

Fiz uma descoberta incrível.

De verdade.

Você pode não concordar comigo a princípio, mas se pensar no assunto, irá acabar chegando a mesma conclusão que a minha.

Estava a pensar em um livro. Pensei, pensei e pensei. Tal foi o empenho no raciocínio, que cheguei a imaginar as palavras que usaria para desenvolver as cenas.

Dar-lhe-ei um exemplo, mas você não precisa ler:

"Revolução, essa foi a palavra que ele disse. Perguntei seu significado, recebendo como resposta uma feição de surpresa. Ignorando minha ignorância, Renato respondeu-me com entusiasmo:
- Revolução é a conquista do povo. É a subversão aos valores burgueses impostos pela sociedade. É a vitória da massa contra os privilegiados...
E continuou a proclamar aquelas palavras sem semântica, aquelas frases não sintáticas. Eu, todavia, continuei a ouvir sem escutar, permanecendo apenas a apreciar a bela sonoridade de suas falas fora de contexto, como vento jogado pelo ar afora, sem que nada sentisse seu delicioso frescor..."

Ok, como eu disse, o objetivo não é você ler esse trecho, só queria mostrar o quão detalhada era a minha mente ao imaginar as palavras que eu usaria no livro.

Então, finalmente, me distraí e comecei a pensar outras coisas.

Olhe a surpresa, tudo que pensei era mentira! E o pior é que eu sabia disso, mas não conseguia pensar uma sentença que fosse verdadeira...

Parei e pensei no meu próprio pensamento. Percebi, por fim, que pensava como se escrevesse.

Entendeu?

Imagino que não.

A questão é: estava pensando como se estivesse anotando tudo que pensava em minha própria mente.

Por que, então, era tudo mentira?

Óbvio, era tudo escrito.

Concluí, afinal, que tudo que é posto em letras só pode ser mentira. Podemos dizer verdades ou não, mas, na escrita, não há opção. Escrevendo, só podemos mentir.

Em crônicas, contos, relatos, depoimentos, cartas, notícias, nada é verdadeiro. Sabemos disso instintivamente.

Diga a verdade: algum dia você acreditou em todo texto que leu?

Eu, pelo menos, não.

Formulei uma frase filosófica. Sintetizei todo esse pensamente "in a couple of words". Espero que goste:


A verdade pode ser dita, mas nunca escrita.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Tic Tac

Tic Tac

E bate o ponteiro dos segundos
O relógio o acusa irredutível

Tic Tac

Você já não sabe o que fazer
Sabe que o tempo é como areia,
escorre pela sua mão
Quando você percebe, já não o possui.

Tic Tac

E giram as setas da vida
Indicando-lhe o início da morte

Tic Tac

Toda vida pela qual passou
Tudo foi-se com o tempo
E agora o relógio lhe mostra
O quanto se perdeu no passado

Tic Tac...







PARA!








Tudo isso é idiotice.
O tempo não é nada.
Tudo é o agora

O passado já passou,
O futuro vai passar
Passe o momento
Mas não faça silêncio
pensando no tempo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Televisão

Estou vivendo minha vida por inércia... Como se ela fosse um filme desinteressante que assisto sonolento.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Estranho sentimento.

Já estou familiarizado, mas não acostumado.

Quando você se sente angustiado a maior parte do tempo, quando parece que lhe falta algo.
Quando sua insegurança se eleva a níveis extremos, quando você se preocupa demais por qualquer coisa.

Quando começa pequeno e cresce exponencialmente, fazendo com que, antes que se perceba, você esteja afogado nele.
Quando você não sabe o que fazer em relação a quase tudo, quando se sente cada vez mais perdido.

Familiarizado, sim, mas nunca acostumado...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Tristeza Póstuma

Navegamos no indefinido
Entre as ondas da incerteza
A tempestade do infinito
Antecipa a tristeza.

Caímos no subjetivo
Estranhando a certeza
De ver o mundo tão frio
Diante da própria beleza

Se puder, tente não notar
Meus tortos caminhos
Pois escrevo pra lembrar
De como estou sozinho.

Nascemos nus e
Morremos vestidos
Para acreditar que estamos despidos
E poder dormir

Mas não sou eu
Quem vai decidir...
com o que vou sonhar.
(o que vou sonhar?)

Se puder, tente não notar
Meus tortos caminhos
Pois escrevo pra lembrar
De como estou sozinho.

Estou tão sozinho...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Duque

O que se pode sentir?
O que se deve sentir?
Até onde podemos explorar o sentimento?
até onde isso não nos levará à autodestruição?

domingo, 16 de maio de 2010

Amor

Já senti amor por uma pessoa uma vez. Amor verdadeiro, daquele tipo pelo qual você trocaria tudo para senti-lo.

Infelizmente, a amada conseguiu destruir esse sentimento. Meu amor foi sugado pela alvo do mesmo, sufocado pela dura rotina a qual me era imposta por por ele.

Alguns meses se passaram e eu me afastei involuntariamente de qualquer coisa mais profunda. Imaginei há pouco que pudesse voltar a sentir o que sentia antigamente, mas me enganei profundamente, e fui descobrir isso da pior forma possível.

Não sei o que farei em relação a isso. Sou uma pessoa romântica, é inevitável. O que posso fazer sem o amor?

domingo, 2 de maio de 2010

Autorrepulsa

Mergulho no desejo e me afogo no remorso.

Choro comigo mesmo, sofrendo pelo que não sinto.

A angústia me persegue.

Estou preso em uma cela cheia de criminosos.

O único inocente está fora da prisão.

Mas eu não quero sair.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ah, esse estranho ato de amor

Muitos acham que, só porque eu incentivo todos a fazer, eu banalizo o sexo. É justamente o contrário, não acredito que haja alguém que valorize mais tal ato do que eu.

O sexo é a união perfeita de dois corpos, é a fusão completa de duas almas presas uma à outra pelo desejo, pela paixão.

É expressão plena do amor no mundo físico. É a demonstração de que, em um mundo com tantos erros e problemas, há espaço para a perfeição.

Repudio o sexo sem amor. Repudio a necessidade biológica do sexo. Para tal absurdo, existe a masturbação. Sexo não é algo que se faça por um, mas por dois.

Não pode haver egoísmo em uma relação sexual, cada um deve pensar mais no outro do que em si mesmo. Enquanto não houver equilíbrio entre o desejo de ambos amantes, não haverá prazer no ato.

Sexo é a materialização do amor. Amor é a filosofia do sexo.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Aniversário

Estou escrevendo agora porque provavelmente terei preguiça depois.

Nesse sábado, farei dezessete anos. O que mudou em mim dos dezesseis para os dezessete? Qual foi o balanço dos meus dezesseis anos?

Primeiro: percebi o quanto eu sou novo. Antes achava que dezesseis anos já era alguma coisa, mas hoje penso que ainda sou uma criança. Isso é, no mínimo, frustrante.

Segundo: meus dezesseis anos foram a idade intelectual. Escrevi muito, li muito e me engajei muito. No final, comecei a cansar disso. Hoje, estou tentando (inutilmente) retomar essa característica minha.

Terceiro: Voltei a ter contato com meus amigos no final dos meus dezesseis anos, e ainda fiz muitos outros. Acho que conheci mais pessoas nos quatro últimos meses do que eu conheci durante toda a minha vida antes.

Quarto: Outra coisa interessante do final dos meus dezesseis anos foi minha mudança repentina de filosofia. Antes eu queria me afastar de tudo que fosse perigoso, hoje eu praticamente procuro o perigo. Hoje, tenho medo de não fazer algo e me arrepender depois. Antigamente, era o contrário.

Quinto: Relacionamentos. Tendo saído de um namoro no mínimo desgastante, hoje em dia tenho receio de começar um novo. Óbvio que continuo me divertindo, mas acho complicado passar disso. Aliás, minha horrível mania de me apaixonar não me abandonou, o que realmente me deixa furioso comigo mesmo.



Acho que esses cinco pontos definiram bem o que foram meus dezesseis anos. O que posso esperar dos dezessete?

Como eu escrevo

Às vezes me irrito profundamente com o meu jeito de escrever.

Escrevo muito certinho, metricamente. Não consigo evitar o uso de palavras difíceis, de construções de frases complicadas.

E, por fim, sou um PÉSSIMO lirista. Não consigo dar um tom lírico ao meu texto, parece muito forçado, muito artificial.

Creio que, se fosse publicado um livro de outra pessoa que escrevesse exatamente do jeito que eu escrevo, odiaria o livro.


Vou escrever depois um conto-exemplo, para mostrar meu jeito insuportável de escrever.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Se eu estou aqui, não estou lá.
Se você está aqui, não está lá.
Mas onde é lá?
Onde é aqui?

Estamos no mesmo lugar?
Não, mas estamos lendo a mesma coisa.
No mesmo momento.
Amo a internet.

Aleatório

Sem nada.
Vazio.
Dia perdido.
Vida perdida.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Felicidade.

Eu amo a tristeza.
Não me chamem de sádico.
Mas a tristeza é linda.
Compartilhá-la, então...

terça-feira, 9 de março de 2010

Capítulo 8: Conversando inconvenientemente com seu filho pelo telefone

- Alô?
- Olá.
- É da casa do Luís?
- É ele que está falando.
- Oi pai, aqui é o Fernando.
- Eu sei. Tudo bem?
- Tudo, e você?
- Tudo indo.
- Feliz Aniversário!
- Obrigado. Como vai a Carol?
- Vai bem, eu acho. Nós terminamos, na verdade.
- Que pena, eu gostava dela.
- Pois é... Vai fazer alguma coisa hoje?
- Vou sair.
- Hm... Com seus amigos?
- Não.
- Com alguém? Alguma...
- Nenhuma mulher nova. Já passei dessa idade.
- Besteira. Mas então, com quem vai sair?
- Ainda não sei. Talvez com ninguém.
- Acho que a Mariana vai passar por aí.
- Se falar com ela, diga que é só ligar que nos encontramos. Você vai fazer alguma coisa?
- Acho que sim... Vai ter uma festa de um amigo meu, também é aniversário dele.
- Ah, que bom. Dê meus parabéns a ele.
- Ok... Bom, tenho que ir, estão me esperando aqui embaixo.
- Tudo bem, filho. Boa festa hoje.
- Obrigado pai, feliz aniversário hoje.
- Obrigado. Tchau.
- Tchau.

E é assim que se conversa inconvenientemente com seu filho pelo telefone.

Fadiga

Canso de viver
Conhece?
Aquele pensamento.
Aquele desejo.

O que me resta,
se não o peso?
A dor, o amor.
O sofrimento.

Ah, mas que drama.
A vida não me engana.
Pudesse eu ver aquilo
que ela não proclama.

Vivendo e aprendendo.
Aos poucos, vou morrendo.
Caso contrário, não estaria eu
melancólico, aqui, escrevendo.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Oi.

Por que as pessoas cansam uma das outras?

A única pessoa da qual já me cansei foi o Duque.

Esse, eu tenho que admitir, é muito chato.

As vezes está feliz demais, outras triste demais. Nunca sabe direito o que vai fazer.

Vai aonde os outros o levarem. Não tem um destino certo.

Cambalea bêbado pelos rumos da vida. Constrói suas lembranças com fragmentos do que se lembra do dia anterior. Suprime todas as outras lembranças, pois nelas podia pensar no quão vazia é sua vida.

Ah, e pior, ele se cansa de si mesmo. Onde já se viu maior estupidez?

Espontâneo

Faz tempo que eu não posto nada no meu blog. Tudo bem, ninguém lê mesmo. Afinal, não conheço ninguém que se interessa por esse tipo de coisa além do Erik.

Também faz tempo que eu não leio nada. De uma hora para outra, virei adepto desse tipo de vida bizarra em que a maioria dos dias você não lembra do dia anterior. Ler com essa anti-rotina não é muito produtivo...

Acontece que, quando não leio, não escrevo. Também me desinteressei um pouco pela estória que estava escrevendo. Não que ela fosse ruim, acho que não, mas é muito difícil desenvolvê-la. Não sei se escrevo mais flashbacks do meu personagem ou sigo adiante com a estória. Queria contar sobre a vida dele, mas aos poucos, não da maneira como estava fazendo.

Tenho, porém, saudade de escrever. Poderia ser qualquer coisa, como esse texto. Estou, na verdade, escrevendo isso porque, especificamente hoje, não faço nada, permaneço em estado de ócio. Nem sei sobre o que falar aqui. Você entendeu alguma coisa do que eu disse?

Estou me cansando da vida, sinceramente. De repente, eu percebi que tudo que pode acontecer de ruim pode realmente acontecer comigo. Algumas estão acontecendo. Não quero lidar com elas.

Não quero parecer dramático. Só sinto falta de escrever. Sinto falta de ler. Sinto falta de lembrar do dia anterior. Sinto falta de sair e não gastar todo meu dinheiro em uma noite e me endividar com deus e o mundo. Sinto falta dos dias em que não pensava em problemas.

Mas não me arrependo de nada do que fiz. Me arrependo, porém, profundamente do que não fiz. Essas coisas, sim, vão fazer falta.

Tchau. Beijos.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Cap. 7: Letras ou números?

– Venha Luís, hora de acordar – disse minha mãe.

E aqui avançamos um pouco no tempo. Cá estamos comigo, nos meus dezoito anos, faltando muito pouco para escolher a minha carreira. Nunca fui muito certo do que seguir. Isso, ao longo do meu ensino médio, se revelou um grande problema.

Temos, afinal, minha mãe. Moça muito bonita, mesmo em sua idade avançada. Excelente dona de casa, alguém de quem posso agradecer ter sido filho. Seu inconveniente, porém, causou muitos problemas à família, principalmente em relação ao meu futuro.

Maria Augusta de Oliveira, era seu nome. Ela atenderia, porém, se a chamassem de Guta Jobim, ou até mesmo Guta de Moraes. Ah, como era intenso seu amor pelos poetas da nação, pelas lindas palavras misturando-se em versos e estrofes, combinando como as cores de uma asa da mais bela borboleta.

E nisso, temos o conflito. Maria Augusta sempre sonhou com um filho letrado, talvez poeta, talvez escritor. Por enorme respeito a ela, durante muito tempo pensei em cursar a faculdade de letras, atendendo aos devaneios de minha mãe.

O confuso leitor provavelmente se pergunta aonde estaria o problema. Afirmo que, sem dúvida alguma, ele estava em Pedro Tomáz de Oliveira. Justamente ao contrário de Maria Augusta, meu pai era um homem centrado, ajuizado e, principalmente, engenheiro. De fato, até hoje não consigo entender como duas figuras tão distintas conseguiram um dia se unir para o resto de uma vida tão conflitante quanto a deles.

Minha mãe, sabendo do pensamento de meu pai, falou comigo em segredo, combinamos de não revelar nossa intensão para o futuro. A omissão, todavia, foi de curto período, pois um dos piores inconvenientes de Maria Augusta era o seu irresistível desejo de dizer o que pensa, seja isso bom ou ruim.

Foi em um dia qualquer que meu pai, pela primeira vez, sentou à mesa comigo para conversar sobre a carreira que eu seguiria. Afirmou que havia muitas opções, poderia escolher da economia à engenharia, entre outras opções não tão boas, mas satisfatórias. Disse que estávamos passando por um estágio de crescimento, o mercado estava aquecido e diversas mais besteiras. Enquanto ele falava, eu só via o vermelho subir pela pele de minha mãe.

Pode se imaginar o desfecho. Seguiram-se dois anos de muitas brigas entre os dois pelo meu futuro. Enquanto meu pai falava números, minha mãe predizia títulos e textos de minha autoria. Um não conseguia escutar as palavras do outro.

Acabou-se, porém, com um acordo no fim. Minha mãe desejava as letras, muito bem. A faculdade, no entanto, não poderia ser de letras, mas direito. Era essa a condição de Pedro Tomáz. A desgosto, Maria Augusta aceitou a cláusula e aqui estou eu, bacharel em direito, funcionário público, que, quando jovem, costumava advogar.

Cap. 6: "Venha Luís"

Seu nome era Antônio. Nascera em uma cidade do interior de Minas Gerais (e seu sotaque sempre foi motivo de risos), porém seus pais, de classe baixa, viajaram ao Rio de Janeiro à procura de melhores condições de vida. Passaram-se quatro anos até conseguirem ascender à classe média, colocando o filho em uma escola católica, onde o conheci. Foi no ano de 1968, no explendor dos meus dezesseis anos, na maior exuberância negra de meus cabelos. O mineiro, porém, tinha também cabelos que rivalizavam com os meus, e isso sempre me colocou em uma competição estupidamente juvenil entre quem conseguia mais elogios de admiradoras. Obviamente, ele sempre obteve o maior número.

Antônio Castro, ótima pessoa, embora rebelde demais para meu gosto. De fato, ele era um ano mais velho do que eu, com dezessete anos em 68. Devido a amigos em comum (e eram poucos os meus), tive o primeiro contato com ele na frente do colégio. De início, não gostei daquele jeito dele, como se superior. Era arrogante, muito, e ainda mais, parecia-me estúpido. Revelou-se, no entanto, muito inteligente, embora tomasse atitudes imbecis ao meu ponto de vista. Bebia, fumava, pregava o ateísmo em uma escola católica, dentre outras idiotices de “vanguarda”. Era muito movimento para alguém como eu.

Aliás, ele era comunista ferrenho, apaixonado pela revolução impossível. Após semanas de diálogos, seus pensamentos conseguiram me influenciar ao esquerdismo, embora nunca tenha me entendido bem com a prática da violência contra o “Estado repressor”. De fato, não entendia bem os verdadeiros ideais que pregava, mas via-me como um intelectual defendendo Marx, o que para mim era suficiente.

Foi em uma noite comum, porém, que perdi o contato com ele, no auge de nossa amizade. Em uma tarde das férias de Julho, as quais muito prezava, marquei o cinema com meus escassos amigos, dentre eles Antônio. Não me recordo realmente do filme, mas isso não me interessava muito na época. Creio que os jovens não vão ao cinema pelo conteúdo, mas pelo prazer de estar entre companheiros, ou pelo menos, sempre assim foi para mim.

A noite, todavia, não fora muito agradável. Durante a sessão, inconvenientemente, Antônio e outros começaram a gritar e insultar o governo ditatorial, escandalizar a censura do filme, entre mais vandalismos. Fomos ameaçados de expulsão do cinema, mas, quase que por encomenda, um apagão interrompeu o filme. Era o que faltava.

Deparei-me com pipocas voando, palavras cuja menção não ousaria nesse texto, refrigerante derramado no chão e outras barbaridades daqueles ao meu lado, todos liderados por Antônio. Após poucos instantes de balburdia, homens com lanternas aparecerem correndo. Não tive opção se não correr com aqueles rebeldes, generalizando-me naquele absurdo. Conseguimos fugir de todos e, com muito cansaço, salvamo-nos de qualquer complicação.

– Falta pouco para você ser preso, Antônio... – disse eu, ofegante.
– Luís – sabia que daquele aposto não viria nada que me agradasse. – Vou para a luta armada.

Engraçado lembrar disso. Muitos aqui diriam que foi um soco no estômago para mim. Psicólogos e psiquiatras analisariam o impacto da frase no meu comportamento e forma de pensar atuais. Tantas complicações para algo tão simples. Nem ao menos me impressionei. A surpresa foi presente, é bem verdade, mas nada que tenha me causado espanto.

– Venha, Luís – disse ele. – Venha para a luta armada.

Não é realmente necessário revelar minha resposta. Eu, para a luta armada? Mal sabia pegar em um cigarro, quanto mais em uma arma. Poderia ter atirado no ar, mas seria tão bom no tiro quanto na cama. Neguei a proposta e tentei – pouco, é verdade – convencê-lo de desistir da loucura.

Antônio, porém, foi para a luta armada. Não tive notícias dele durante cerca de onze anos. Apenas com a Anistia pude revê-lo, quase que por acidente, no aeroporto. Esperava por minha mulher no Galeão, mas por uma estranha coincidência do destino, o avião atrasou e encontrei-me com meu antigo amigo. A despeito de algumas cicatrizes e alguns fios brancos, não parecia muito diferente, embora tenha sido ele que me reconhecera, em uma época em que tinha meu cabelo curto. Dali estenderam-se alguns telefonemas de aniversário, páscoa, natal, entre outras datas comemorativas. Se não me engano, tentou a política em Minas Gerais, mas não conseguira nada além da Câmara Municipal de sua cidade natal. É uma pena. Se não estou completamente errado, era de boa índole e, provavelmente, honesto.

Na noite em que ele se foi, porém, não consegui dormir. Deitei inquieto, assolado por uma febre repentina que não me deixava descansar. Fechava os olhos e via Antônio com um cigarro em uma mão e um revólver em outra, apontando para mim sua arma e repetindo a mesma frase: “Venha Luís, venha para a luta armada. Venha Luís, venha para a luta armada.”

E eu virava-me e revirava-me em minha cama, tentando esquecer aquela besteira. Nunca, em qualquer momento, eu pensei em realmente ir para a luta armada. A frase, todavia, continuava a me assolar: “Venha Luís, venha para a luta armada. Venha Luís, venha para a luta armada. Venha Luís, venha para a luta armada. Venha Luís...”