quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Completude

Sinto falta das uvas em sua parede branca, a me lembrar dos vinhos que tomamos por vezes. Embriagávamos nossos corpos, a exemplo de nossas almas, já totalmente embevecidas pelo desejo.

Sinto falta de andar descalço pela sua casa, esbarrando no seu pé sem querer, pegando na sua mão em seguida. Fixávamos o olhar e nos encostávamos por inteiro.

Me perco em meu pensamento ao sentir volta e meia sua pele na minha. Ao ver que todos nós procuramos alguém para nos completar, sei que a confusão do inteiro pela parte se faz completa quando meu pensamento pousa insistentemente nessas lembranças.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O mundo é vasto...

... e o desejo é sem fim,
                       sem mim.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Lugares e Espaços

Foi pouco o esforço que fiz para perceber qual seria esse "meu lugar", já pronto para mim desde que me (des)entendo por mim mesma. O inalcançável não é, afinal, o "onde", mas o "porque" estaria já eu predestinada a ocupação desse espaço, determinado a mim de forma incongruente, percebido de maneira errática.

É espaço sem vazio, lugar sem localização.

A vida inteira vi hordas de nervosas pernas a tentar se fixar, como se seus portadores procurassem a si mesmos, sem nunca se encontrar. Sempre me pareceu muito claro seus lugares, assim como sei que todos sabem muito bem o lugar de seus próximos, em uma eterna demarcação impositiva, sem, no entanto, definir espaços próprios.

Uma perfeita esquizofrenia espacial.

A dificuldade é ousar rompimento, mesmo que breve, sobre todo esse rígido tecido que nos prende a nós mesmos.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Inspiração Sui Generis

Não sei quando perdi aquilo que, por desconhecer, afastei no primeiro instante, como se ameaça benquista, quiçá bem vinda, da qual por todo minha vida me privei.

Acabei por reencontrá-la em um sonho distante, embaçado por vezes, que me fazia lembrar da tímida luz que a Lua discretamente traz à madrugada fria.

Por generosidade, recebi-a de novo em meus braços e, por vontade, agarrei-a para nunca mais deixá-la escapar outra vez.

Olhei para o céu e a vi. A noite pairava acima de mim, tomada pelas mais belas estrelas, intercalada por diversas constelações e galáxias, chamando-me eternamente ao seu encontro, para mergulhar em sua imensidão indefinida, sem volta garantida.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Sensações esparsas podem nos levar aos mais diversos pensamentos

A vida nos sonha, mas não nos escolhe.
Por fim, acolhe-nos em seu idoso ventre,
nutre os filhos com seus sonhos de mais filhos
a fim de ser rejuvenescida pelo amor de sua prole

Réquiem por muitos sonhos

A mulher é um ser intraconectivo. O homem é um ser extraprospectivo.

A interação dual de ambos gera o que chamamos de energia e, por vezes, vida.

Adentrando o espaço vazio que há em ti

Sonhei com a solidão da alma, vastidão habitando vazio, preenchendo espaços que se abrem para não ser.
Perco-me na roupa larga, vestida como se apertada, pois não há nada naquele que se cobre sem saber.
Viajo em passo rápido, preso (pressa) ao passado, sem conseguir sair desse mesmo primeiro lugar.

Somos muito mais do que aquilo que percebemos.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Ausência

Hoje eu te vi nua num quadro surrealista. Talvez fosse sonho, com sua nostálgica tortura de me fazer pensar em seu corpo ausente, em meio a cenário marinho diverso, com uma garrafa de vinho branco ao lado.

Sua nudez sempre foi surreal para mim, por vezes intocável, como se sacrilégio sagrado, um símbolo de um ideal inalcançável, uma vida a léguas de distância daquela para a qual trilhava.  Pergunto-me, por vezes, como teria sido minha existência sem conhecimento da sua, talvez com tão mais serenidade, mas sem dúvida com um vácuo, esse a ser preenchido por todos aqueles sonhos difusos, cujo embaçado não me permitia vislumbrar de fato.

Sua benção e maldição foi me pôr a enxergar aquilo que eu queria para mim. Hoje já não posso me satisfazer sabendo meu desejo. E meu desejo é você.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Luz que ofusca

Nunca consegui compreender exatamente o que seria essa ideia de razão. Foi-me sempre apresentada como um conceito objetivo e - surpreendentemente - externo ao homem, como se a natureza já se utilizasse dela muito antes de nossa percepção, o que sempre me pareceu, em algum grau, uma loucura. Conforme fui me acostumando com ideia, pude perceber algumas incongruências quase dogmáticas nessa abstração que, supostamente, libertaria o homem da selvageria e o iluminaria em direção ao... Ao quê? Alguns dizem que é ao desenvolvimento. Do quê? Da racionalidade, talvez. Olha só, entramos em um argumento circular.

A verdade é que, através do mito da razão, criaram-se diversos paradigmas e ilusões de superioridade que estão já há muito arraigados na sociedade. A arte - sempre ela - é a principal vítima dessa ideia. Com o artifício da razão, a arte é criticada, lapidada e até descreditada por aqueles cuja lógica racional é a única possível. Subjugando a subjetividade humana, cria-se a (suposta) possibilidade de racionalmente julgar e medir a qualidade artística de uma obra, como se o sentimento passado fosse mero detalhe.

Ora, como se a própria utilização da razão não fosse fruto de um sentimento! Apesar de muitos crerem religiosamente que são racionais por ser esse o modus operandi natural-ideal do ser humano, é impossível negar que é por um sentimento de satisfação pessoal e (sim!) subjetivo que utilizamos esse artifício cheio de regras próprias e formuladas pelo próprio homem.

Acabou que nossas próprias relações pessoais hoje são totalmente permeadas por essa ideia abstrata, cuja regra é a geração de um conflito, por entender a verdade como única e racionalmente alcançável. Quão mais se utiliza a razão, mais impossibilitados se tornam os consensos. É impossível negar avanços, como a supressão das coerções pessoais (no nível ideal), mas é pela desvalorização da subjetividade humana natural que cavamos nossas próprias tumbas ao suicídio artístico-pessoal, criando uma massa fadada à pior das previsibilidades: a cultural.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O descanso do céu

A chuva cai como se cada gota fosse um peso próprio do (m)ar, que arremata sobre a pele a mais vertical fluidez. O céu não parece chorar, mas se derramar sobre mim, como se, exausto, impusesse seu pesado descanso sobre meu corpo frágil. A frieza de cada pedaço do céu (do seu) não gela, mas aquece cada canto de minha existência, sentindo o peso deste sono derramado de beijos ao qual não pude nem quis fugir.

Banho-me sob esse respaldo único para sentir esses longos e gelados lábios sobre a minha pele, que já desconheço para além da sensação. Se da leveza podemos nos sentir livres, é pelo peso que podemos verdadeiramente nos libertar, nos libertar de nosso próprio ser. A destruição da ilusão é substituída pela fusão total das existências mais diversas, água e ar, chuva e corpo, frio e calor.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Manifesto da razoável loucura de acordar cedo todo dia

Ao contrário do senso, todo início de ano eu enlouqueço.  

A construção de um futuro a prazo, instituindo novo calango, antigo ideário, toda essa ideia velha com ares de novidade, a fim de tombar de vez com a sanidade, mais uma vez revisitando as cercas embandeiradas que separam o ciclo, tomando o inteiro como parte, o tempo como linha, só o Batman salva. 

La película de mi vida

Entre tantos desejos esparsos e sonhos diversos, ensaio um andar torto sobre qualquer caminho apagado que algum dia vislumbrei na imensidão.

Esses são dias desleais.  

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

2014 - 21 anos

Lá se vai 2013 e, em breve, lá se irão minhas duas décadas de vida. A idade é sempre a pior das lembranças de que você já não tem mais tempo para perder.

Muito tempo se foi, e muito aconteceu de lá pra cá. 2013 foi o ano em que pela primeira vez trabalhei do início ao fim, o primeiro no qual verdadeiramente me apaixonei, mas, mais importante do que tudo, foi o primeiro no qual eu percebi de fato quem eu quero ser.

Não há conclusões possíveis para esse texto.
O tempo só se conclui quando se esgota, não há circularidade na existência.

(desculpem-me, nenhuns leitores, pela quebra repentina do discurso, creio ser reflexo do meu humor de hoje, afetado pelo engarrafamento que peguei na Barra)
Do ar denso que sopra por teu corpo extenso, sinto o peso do teu toque, da tua boca e do teu cheiro.
Sua pele úmida de desejo, que acende sobre mim a vontade de querê-lo.
Quero tudo que vejo, e mais aquilo que percebo.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Ditadura da Beleza - Posição e Oposição

Discorro novamente sobre esse tema, tendo em vista que conheci outras opiniões e refleti mais sobre o assunto.

A ditadura da beleza é, primeiramente, uma expressão adotada recentemente por "progressistas" e "esquerdistas", que afirmam que o padrão estético, criado e reforçado pelos meios audiovisuais, é uma ferramenta de opressão a todos aqueles à margem do ideal exposto. O belo teria, portanto, a função de excluir todos aqueles que não visam a reprodução do padrão imposto.

Segundo tais ideias, relativismo estético seria o único caminho à inclusão social de todo e qualquer grupo estético (seja na aparência, na moda ou mesmo na arte). Enxergando beleza em todos os traços da imagem, todos podem ser atingir tal ideal.

Daí surge a oposição dos "conservadores" e "direitistas", que, contrariamente às suas ideologias liberais e individualistas (nada contra!), afirmam que o relativismo da beleza é uma ferramenta de subversão à ordem, podendo acarretar na falência moral da sociedade. Com o fim do ideal de beleza, são plantadas as primeiras sementes da destruição do que era anteriormente considerado - e, assim, de fato - belo.

O que eu não compreendo é como podem deixar de lado a questão da objetividade/subjetividade da beleza, podendo esse ser o ponto de convergência entre os dois lados. Afinal, a essencial não é "ver beleza em tudo", mas compreender a beleza como um fenômeno passivo e subjetivo, dando total liberdade aos indivíduos de formarem seus próprios padrões estéticos. Com isso, toda e qualquer iniciativa em prol da relativização da beleza não se torna subversivo, mas apenas uma expressão individual do conceito do "belo".

Há pouca margem, nesse sentido, de oposição entre qualquer ideologia acerca dessa ideia, talvez apenas na divergência do esquerdismo da abordagem individualista. Ainda assim, acredito que os mais ferrenhos debates contra ou a favor do fim (ou da própria ideia) da ditadura da beleza provêm unicamente da necessidade dos grupos políticos antagônicos de criarem uma nova maneira de divergirem. Cada vez mais, penso, as pessoas desejam se afastar do consenso, temendo se juntarem a seus opositores.

Talvez eu escreva posteriormente sobre essa tendência...

O segundo adiante

Cada segundo pelo qual despercebida passa minha existência, indago se não estaria eu a desdenhar da preciosidade do escasso tempo que disponho.

Em duas décadas, minhas conquistas avançaram em passo vagaroso, enquanto meus sonhos e desejos se expandiram em luminosa velocidade, sem respeito pelas sinalizações de tropeços à frente, com risco de queda e fratura.

Arrisco-me a dizer que não seria eu sem tal ansiedade, sem esses acúmulos de desejos, de vontades, e então, conquanto possa pensar em andar mais rápido que permitem minhas pernas, minha existência permanecerá ativa e fluida.

O segundo adiante é, portanto, meu senhor e meu algoz, aquele que me permite continuar, mas me assola com os mais perturbadores sentimentos. O passo a seguir precisa sempre ser maior do que o anterior, a velocidade agora precisa sempre ser maior do que a de outrora.

Afinal, o horizonte é logo ali.