sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Luz que ofusca

Nunca consegui compreender exatamente o que seria essa ideia de razão. Foi-me sempre apresentada como um conceito objetivo e - surpreendentemente - externo ao homem, como se a natureza já se utilizasse dela muito antes de nossa percepção, o que sempre me pareceu, em algum grau, uma loucura. Conforme fui me acostumando com ideia, pude perceber algumas incongruências quase dogmáticas nessa abstração que, supostamente, libertaria o homem da selvageria e o iluminaria em direção ao... Ao quê? Alguns dizem que é ao desenvolvimento. Do quê? Da racionalidade, talvez. Olha só, entramos em um argumento circular.

A verdade é que, através do mito da razão, criaram-se diversos paradigmas e ilusões de superioridade que estão já há muito arraigados na sociedade. A arte - sempre ela - é a principal vítima dessa ideia. Com o artifício da razão, a arte é criticada, lapidada e até descreditada por aqueles cuja lógica racional é a única possível. Subjugando a subjetividade humana, cria-se a (suposta) possibilidade de racionalmente julgar e medir a qualidade artística de uma obra, como se o sentimento passado fosse mero detalhe.

Ora, como se a própria utilização da razão não fosse fruto de um sentimento! Apesar de muitos crerem religiosamente que são racionais por ser esse o modus operandi natural-ideal do ser humano, é impossível negar que é por um sentimento de satisfação pessoal e (sim!) subjetivo que utilizamos esse artifício cheio de regras próprias e formuladas pelo próprio homem.

Acabou que nossas próprias relações pessoais hoje são totalmente permeadas por essa ideia abstrata, cuja regra é a geração de um conflito, por entender a verdade como única e racionalmente alcançável. Quão mais se utiliza a razão, mais impossibilitados se tornam os consensos. É impossível negar avanços, como a supressão das coerções pessoais (no nível ideal), mas é pela desvalorização da subjetividade humana natural que cavamos nossas próprias tumbas ao suicídio artístico-pessoal, criando uma massa fadada à pior das previsibilidades: a cultural.

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