quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O descanso do céu

A chuva cai como se cada gota fosse um peso próprio do (m)ar, que arremata sobre a pele a mais vertical fluidez. O céu não parece chorar, mas se derramar sobre mim, como se, exausto, impusesse seu pesado descanso sobre meu corpo frágil. A frieza de cada pedaço do céu (do seu) não gela, mas aquece cada canto de minha existência, sentindo o peso deste sono derramado de beijos ao qual não pude nem quis fugir.

Banho-me sob esse respaldo único para sentir esses longos e gelados lábios sobre a minha pele, que já desconheço para além da sensação. Se da leveza podemos nos sentir livres, é pelo peso que podemos verdadeiramente nos libertar, nos libertar de nosso próprio ser. A destruição da ilusão é substituída pela fusão total das existências mais diversas, água e ar, chuva e corpo, frio e calor.

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