quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cap. 5: Alô?

O telefone, então, toca. Eu, ainda abismado com as formiguinhas, sou arrancado de minha realidade paralela, confinado novamente pelo simples barulho de uma chamada. Zango-me e saio de meu trono. Arrasto-me pelo apartamento, guiado pelo maldito toque, até que, finalmente, encontro o telefone. Imaginei quantas vezes ele tocaria naquele dia. Não seria menos de cinco, mas também não muito mais de dez. Ou, pelo menos, assim esperava.

Atendo. A voz que me cumprimenta parece distante, vaga. Zonzo, retorno o bom dia e agradeço pelos “parabéns” sem ter ideia de quem possa estar me concedendo tais honras. Calculo a intensidade da voz. Não pode ser alguém muito conhecido, caso contrário, hesitaria menos. Seria um amigo antigo? Não sei, não me vem à cabeça qualquer nome que possa me ser útil no reconhecimento da pessoa.

Tempo, pelo visto, não lhe falta, pois cerca de dez minutos se passam e a incógnita teima em falar sem que eu descubra seu valor. Os assuntos, todavia, são diversos. O homem parece ser uma ótima companhia, tendo em vista sua capacidade de pular do mais simples futebol (o qual desprezo) aos mais intrínsecos ramos da política (a qual da mesma forma não me agrada). Se bem me recordo, o que garanto ser improvável, assuntos como mulheres e casos desconhecidos também estiveram presentes.

São, por fim, dadas as despedidas e, aliviado, desligo o telefone sem ter cometido nenhuma falta com o homem cuja voz não fora por mim reconhecida. As perguntas, felizmente, foram escassas e, quando houve, vieram de mim, tendo como objetivo a fuga de uma incongruência na conversa com meu desconhecido amigo. Grande amigo, ele. Pena que me escapara seu nome.

Revelo, assim, ao leitor o primeiro telefonema do meu aniversário. No que parece um cômico caso de amnésia momentânea, esconde-se uma flecha de dúvida direcionada à minha pessoa, certeiramente atingida pela arma. Ponho-me a divagar que homem tão simpático era aquele que me ligara.

A dúvida, porém, finda apenas meses depois. Hoje, nesse exato instante, sei quem era o portador da voz que me assolou com o questionamento sem resposta.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Divagação...

Enquanto o ser humano se impôr no poder sobre todas as outras formas de vida do universo, estaremos aprisionados em nossa triste ilusão de soberania, escravizando a nós mesmos em um mundo virtual, isolado da realidade na qual estamos inseridos.

Não se preocupe, leitor, essa é apenas uma divagação...

Onze Minutos

Restam-me apenas onze minutos. “Para quê?”, pergunta o leitor. A paciência, porém, é aliada ao homem e aqueles que, por ignorância, renunciam a essa virtude devem, sem remorso algum, findar a leitura desse texto. Não me é bem vindo esse desventurado leitor, hoje viciado nas narrativas rápidas e constantes, que se deixa aprisionar pela literatura miserável, com a qual se consagram falsos escritores.

Finalizada essa questão, gostaria eu de retornar à afirmação inicial. Onze minutos, são os que faltam. Se não, menos, afinal, passam-se os segundos a cada segundo e, assim, escasseiam-se os minutos, extinguindo-se por fim e cedendo aos valores menores, porém cheios de gorduras temporais que, da mesma maneira, se queimam durante a corrida do tempo.

Onze minutos, pode contar, leitor? Sua leitura não passará dessa marca e, caso contrário, pode alegremente considerar-se um besta. Mas, provavelmente, aqueles que levariam mais tempo do que o por mim estabelecido já se afastaram desse texto. Se restar, porém, algum imbecil que desventuradamente continua a ler, possivelmente por teimosia, superficialmente esses períodos, aviso-lhe desde já que não se interessará por nada daqui. O leitor medíocre só encontrará nessas linhas o tédio e a monotonia, o que será de meu profundo agrado.

Onze minutos, e finalmente revelo ao leitor paciente (ou não) o objetivo dessa marca. Onze minutos para o fim. “Fim?”, questiona o leitor, e afirmo novamente: “O fim!”. Afinal, ao contrário do que se pensa, é de fins que se constitui a vida. Discorda? Pois muito bem, não esperava que o leitor pudesse superar suas mesquinhas limitações transcender à verdade. Por isso, provarei nos próximos parágrafos minha afirmação anterior.

Devo, porém, aqui fazer uma interjeição. Espero que se tenha percebido que no primeiro período desse parágrafo não adicionei formalidades inúteis e hipócritas, como “, caso me permita o leitor, ”. Não me atrevo a, pelo menos dessa forma, enganar aquele passa os olhos por essas letras. Esse é meu texto, escrito por mim. Eu imponho ao paciente leitor tudo que pode me vir à mente. Não é do meu feitio pedir permissão a algo que não obterei resposta. É uma redundância inversa, uma incongruência que tem se apresentado invariavelmente de toda a nova geração de falsos (ou até de verdadeiros) escritores. Esse parágrafo serve para explicitar ao leitor que tudo que aqui colocarei é-lhe imposto por mim e, assim que começar a entender o como é meu prisioneiro e se incomodar com o fato, aconselho-lhe que abandone o texto, pois só assim se verá livre do meu domínio.

Retorno, assim, a revelação dos fins. Não pedirei perdão ao leitor por ter-me dado por filósofo, impondo-lhe algo que provavelmente não é de seu agrado. Obviamente estou ciente da nova prostituição da filosofia, tendo se precedido sua rejeição, obrigando-a a esse novo cargo de concubina das ciências, adepta apenas por aqueles cujos cabelos já passaram dos joelhos. Começarei, finalmente, a explicação do que foi afirmado anteriormente.

A vida é feita de três fases, que se iniciam com começos e terminam com fins. Não ria o leitor que passa os olhos por essas afirmações, logo verá a lógica simples de minha ideia.

Temos como primeira fase, que se dá logo depois do nascimento, a infância, a juventude, na qual se começa um mundo inteiro novo, destacando-se o berço, os brinquedos e os estudos. Os fins começam cedo, com o fim da berço, logo em seguida, o fim dos brinquedos, e o mesmo se dá, finalmente, com os estudos, marcando o término da fase jovem.

Temos, portanto, a fase adulta, com o começo das responsabilidades, destacando-se o trabalho, o casamento e a família. Dessa vez, a fase dura muito, com o primeiro fim após apenas muitos anos. Primeiro se dá o fim do casamento, já estagnado e sem o amor dos primeiros tempos. Logo em seguida, vem o fim da família, com o provável divórcio, a morte dos pais e o crescimento dos filhos. O término da fase adulta, porém, se dá com o fim do trabalho.

É a vez agora da fase idosa. É difícil destacar os começos de anos que precedem o verdadeiro fim. Mas podemos talvez destacar aqui as leituras, as caminhadas e o sossego. Temos então, logo o fim das caminhadas, interrompidas pela fadiga. Em seguida, vem o fim das leituras, com a catarata, o cansaço dos olhos. O sossego finaliza quando o idoso já é afetado pelas dores pelo corpo, a enxaqueca, as ininterruptas tosses.

O último fim, como deve já saber o leitor, é o fim da vida.

É assim que termino a explicação de minha teoria. Contraponho com ela a hipócrita visão de mundo na qual a vida é feita de lutas e conquistas, absurdo incompreensível do pensamento humano. O leitor, provavelmente estupefato, deve agora entender porque se teme a velhice, porque se anseia a maturidade. Será a partir das vertentes do meu trabalho inicial que se darão outras diversas explicações para a realidade.

O leitor besta, acostumado à literatura medíocre, que eventualmente chegou até aqui, pode se considerar menos imbecil. É seu dever agora entrar na verdadeira leitura, proporcionados pelos verdadeiros escritores. Caso não o faça, espero que pelo menos esteja ciente de sua incongruente estupidez. Antes compreender a próprio mediocridade do que viver ignorando seu male maior.

Onze minutos. O leitor chegou até aqui para entender essa marca temporal. Onze minutos para o fim. Para o fim do texto. Para o fim da teoria. Para o fim da vida. Minha vida.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cap. 1: Sonho

- Matamos o tempo, o tempo nos enterra – Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis.

Sonhava estranhamente. É bem verdade que nunca tivera sonhos exatamente normais, porém aquele, logo aquele...

No começo havia apenas o nada. Se for necessária uma alusão, é bom que se pense no gênesis, antes de Deus, por algum enorme equívoco, dar início à criação. Em seguida, vejo a luz vermelha preenchendo todo o espaço. Palpitando irregularmente, a cor ofusca-me com sua vibração inerente. De repente, o escarlate absorve a realidade. Não só o vejo, mas o cheiro, ouço, toco, sinto. A sinestesia me atordoa e tento agachar-me e apoiar-me no chão. Percebo, então, que não há chão, braços ou pernas. Havia só o escarlate. Eu era o escarlate.

Encolho-me, de súbito, concentrando-me inteiro em um único ponto. À minha volta, nascem grandes colunas, semelhantes a obeliscos. Acho, então, estar girando, pois minha visão se move circularmente. Mas o erro é logo notado. Tudo roda, tudo gira, apenas eu permaneço parado.

E essa inércia acelerada permanece, com o constante movimento das colunas, que começam a apresentar fragilidade. Na minha eterna imobilidade, vejo, repetidamente, tudo desabar sobre mim. A situação, obviamente, é acompanhada pela quinta sinfonia de Beethoven.

Cap. 2: Acordando

O sonho, então, se interrompeu. Acordei naquela manhã, sob a pálida luz do nascer do Sol, esfregando longamente os olhos. Esquecera novamente a janela aberta. Muito esperei deitado até perceber que o sono não retornaria. Sentei-me sobre a cama, de cabeça baixa, tentando lembrar de tudo que passara. Sim, claro. Era meu aniversário.

Lembrei-me aos poucos da data da qual tentava fugir, desesperado. No dia três de Setembro de 2007, completava exatamente cinquenta e cinco anos e via no espelho do quarto todos os meus fios de cabelo grisalhos. A primeira vista, tal fato não agrega tamanha importância, mas, durante toda minha vida, meu cabelo, de exuberantes mechas onduladas e escuras, foi o maior expoente de minha escassa beleza. Não foi sem motivos que sempre o conservei volumoso, embora não longo, o que eu realmente desprezo em um homem.

Retornando ao fato, estava eu a observar-me de frente ao espelho, procurando qualquer fio negro que fosse, sem êxito algum. Tal foi minha energia em achá-lo, que, do meu despertar até o momento em que percebi que só acharia o cinza naquelas mechas, tinham-se passado cerca de quarenta minutos, o que um infeliz leitor há de concordar que não é pouco.

Suspirei longamente, decepcionado com a falha da busca, imaginando se não seria tempo de artificializar-me. Porém, logo após poucos instantes, descartei a hipótese, não compreendendo como poderia tê-la nela pensado. Caminhei pesadamente até a janela e apoiei-me ao parapeito. Por alguns instantes fiquei a observar a extensa Praia de Copacabana, admirando-a e culpando-a pelas minhas olheiras. Abaixei a cabeça, olhando para o nada.

Vislumbrei, de súbito, algumas pessoas caminhando pela calçada da praia. Pequenas pessoinhas a andar pelo asfalto, em um horário extremamente inconveniente (acredito que não passavam das seis e meia da manhã). Tamanha incongruência atordoava-me, e acabei por devanear o que motivava aqueles seres a agirem de tal maneira, tão bizarra, tão... disposta. Eram poucas, é bem verdade, mas o suficiente para vê-las como um grupo desorganizado de formigas, vagando sem rumo para esquerda e direita, a fim de encontrar algum caminho. Creio que aquela situação enquadrava-se melhor a mim, mas a relação não foi entendida no momento em que ocorreu. Estava demasiadamente entretido nas formiguinhas para pensar em assuntos tão complexos.

Cap. 3: Erro

Peço desculpas a algum leitor que, por imensa desventura, iniciara a leitura deste texto. De fato, creio tê-lo começado errado. Por um inexplicável motivo, contrariei princípios básicos meus tendo escrito as linhas precedentes a esse parágrafo. Explicarei a seguir ao leitor. Espero que, uma vez que já se lera até aqui, possa-se pelo menos entender meu erro nas próximas linhas e abandonar satisfatoriamente o texto.

Acredito que, no início de qualquer escrita, deve-se sempre explicar o motivo da mesma, justamente o que não realizei e pelo que suplico perdão. Em realidade, se me fosse possível, pegaria outra folha de papel e recomeçaria novamente. Infelizmente, essa possibilidade não me é concedida.

Vejo também que adicionei certos aspectos estranhos ao texto. Não gosto de poetizar, sou averso a lirismos, mas quando o leitor lê “sob a pálida luz do nascer do Sol” não duvida da intensão do autor de frutificar sua estória, dar-lhe aromas e cores, algo do qual tento me afastar. Jurei a mim mesmo que escreveria de forma crua, sem floreios. A falha, no entanto, dá-se logo nos primeiros períodos, em um importante entre vírgulas do meu texto. Analiso facilmente a ridicularização do ato.

A origem do erro, porém, devo afirmar que é legítima. Há tempos tenho essa imagem na minha cabeça, atormentando-me constantemente durante meu refúgio. Lembro-me visivelmente daquela luz ofuscante, como se transparente, incomodando meus olhos. Uma das mais belas vistas do mundo e um dos piores modos de acordar unidos em uma única situação. A praia de Copacabana é linda, de fato, mas não muito conveniente quando lhe foge a mente a necessidade de fechar a cortina antes de dormir.

O eventual leitor que, por algum infortúnio, continuou a leitura provavelmente se pergunta nesse momento se o motivo da escrita é, realmente, a imagem do nascer do dia no meu aniversário repetindo-se na minha mente, retornando quase que como em um curto círculo. Não, pelo menos não de todo. É fato que essa maldita manhã impulsionou-me a apressar-me a escrever o relato, porém já tinha essa ideia na cabeça há tempos.

São vários os motivos pelos quais resolvi contar minha estória. Um deles, o mais sério, é avisar à sociedade de um mau livre, rondando escondidamente pelas ruas do Rio de Janeiro. É preciso, sim, que o desventurado leitor saiba de minhas vergonhas passadas para que entenda a crítica situação à qual cheguei e a injustiça a qual sofri, justamente a inversa que se deu sobre o mau que continua a vagar pelos bueiros da população carioca.

O segundo motivo, o qual também devo dizer, é restabelecer a confiança em minhas memórias, que vêm decepcionando-me ao se enrolarem em várias voltas e amarras. Creio que, pela necessidade de organiza-las para escrever partes da minha vida, acabo colocando-as em ordem, podendo novamente adentrá-las sem medo de me perder em devaneios absurdos, o que vem ocorrido com frequência.

O resto, caso o infortunado leitor deseje continuar a leitura (e aqui se encontra um inevitável pleonasmo), será revelado.

Cap. 4: Medíocre

Sou um homem medíocre, e não vejo por que não fazer tal afirmação. Minha vida, estagnada e previsível, finaliza-se com um desfecho quase que idiota (peço desculpas pela insubstituível expressão). Devido ao meu excesso de confiança, no fim, tive-me só, podendo contar apenas comigo mesmo. Minha morte, obviamente, não se deu fisicamente, mas creio que minha mente já está, há muito, enterrada, cremada, polvorizada.

A mediocridade, e é certa a próxima afirmação, não é a origem de todos os males. Como dito anteriormente, sofri de uma enorme injustiça, a qual só poderá ser revelada no fim. Caso o leitor não possua a paciência necessária para ler tamanho monotonismo, deve-se avançar até o fim do relato, no qual revela-se um desfecho menos sufocante do que o resto do texto. Todavia, aquele que prefere sujeitar-se à minha imbecil estória, poderá compreender (à custa de uma enorme avalanche de tédio) melhor como se deu meu atual quadro.

A cultura anticultura

Muito se fala da educação brasileira, nada exatamente bom. Porém, embora seja esse um assunto já popular, existe, há algum tempo, certo equívoco da sociedade em relação às responsabilidades do fracasso que é o nosso ensino.

O Brasil nunca teve como um forte a educação. Possivelmente, a história tem muito a nos responder o por quê. Com um passado de colônia de exploração, monarquia agrária e república conturbada, explica-se boa parte de nossa cultura quase como se “contra” as escolas. Já isso em muito influencia na democratização do “jeitinho brasileiro”, ao qual tantas vezes nos recorremos para resolver problemas do cotidiano.

Refiro-me, obviamente, não apenas ao ensino público, mas também ao privado, embora esse último seja razoavelmente melhor. O Estado é, afinal, governado por pessoas, que, apesar de todos os mitos, fazem parte da mesma cultura que nós, brasileiros. Se o governo não dá muita atenção a esse setor, também não o faz a sociedade no geral, pois ambos, incluídos no sistema capitalista, pensam nos custos, que são muitos, e nos lucros a curto prazo, que são poucos. Por isso vêem-se diariamente estudantes de classe média e alta, todos em colégios medianos ou até acima da média, que não dão importância às suas notas (o que se deve à falta de cobrança da família), começando a se preocupar apenas quando estão quase repetindo de ano, já na chamada “recuperação”. Esse quadro também é visto nas escolas públicas, embora de modo mais gritante.

Essa cultura anticultura (visto que a mesma é produzida apenas com instrução e aprendizado) reflete-se em diversos problemas que travam o desenvolvimento do país. Uma delas, a mais direta, é a falta de mão de obra qualificada, o que desestimula investimentos estrangeiros no setor da alta tecnologia e freia a própria produção científica brasileira. A segunda, mais genérica, embora ainda mais importante, é a falta de planejamento no crescimento da nação. O Brasil não age, mas reage. Isso se repete em toda história, como se visitássemos “um museu de grandes novidades”, parodiando Cazuza. O mais fundamental exemplo é a industrialização do país, que se deu em maior escala apenas quando o café deixara de ser tão rentável depois da crise de 29 e as importações tinham diminuído devido à Segunda Guerra Mundial.

Há algum tempo, isso vêm mudando. Há muitas críticas a se fazer referentes ao Governo Lula, mas deve-se entender que a educação correspondente ao seu poder (que estende-se diretamente apenas às universidades e escolas federais) melhorou até certo ponto. O número de profissionais com títulos de doutor e mestre, jamais foi tão elevado. Pela primeira vez na história, o Brasil atingiu a meta de formar dez mil doutores e 40 mil mestres por ano. Em 2006, 10.868 bolsistas de doutorado e 15.646 de mestrado contaram com o apoio da Capes, o que representa um aumento de 33% e de 32%, respectivamente, sobre os números de 2001.

Será, portanto, que a educação está de fato melhorando? Sim, mas parcialmente, afinal, o ensino médio e fundamental são até hoje péssimas, com raras exceções. Isso, porém, não é atribuição do governo Federal, mas do Estadual e Municipal. E são essas esferas do poder que dão maior descaso ao ensino, devido, também, à corrupção e falta de orçamento, mas principalmente à cultura anticultura.

A sociedade não vê como “produtiva” a educação básica, imaginando, equivocadamente, que não será ela que mais influenciará na luta pelo emprego. É nesse ponto que a população mais se engana. Sem saber bem ler, escrever, contar, somar, subtrair, como esperar um bom ensino médio, uma boa faculdade? Conversando com um professor de física do ensino médio, que também trabalha em uma escola estadual, soube de um caso em que, questionando a velocidade média de um carro, em movimento uniforme, que se desloca 100 quilômetros em uma hora (desprezando, é claro, forças como o atrito e resistência do ar), ouviu apenas o silêncio. Não é preciso cursar faculdade de física ou matemática para responder essa questão.

É necessária, portanto, a maior preocupação dos brasileiros em relação ao ensino médio e fundamental. Exigir dos governos Municipais e Estaduais uma boa educação é muito mais fácil do que fazê-lo do Federal. Desculpas, porém, serão sempre presentes. A falta de tempo e ocupação excessiva da população é, aparentemente, um sério problema nacional.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Texto Integral de "Amada Luísa"

Amada Luísa,
Escrevo-lhe sob a sombra fresca de uma árvore, diante de várias outras. Creio que sejam orvalhos, mas não posso afirmar com certeza. É lindo esse lugar, apesar de tudo. A terra segue escura por todo o terreno, coberto sempre de vasta vegetação, árvores gigantes e cobertas de folhas, o que faz os piores dias de calor parecerem um resquício do ódio aqui presente.
É outono, tenho certeza, pois, diferentemente de nosso país, nessa época do ano todas as folhas daqui, em todos os ramos, sem exceção alguma, começam a secar, avermelhar-se e cair. É algo lindo de ver. Espero que, quando voltar desse inferno e a paz reinar nesses campos, possamos juntos visita-los.
A verdade é que não quero lhe dar falsas esperanças, amada, mas como posso, se eu mesmo acredito que logo estarei de volta? Acredita quando digo que vejo nas lindas folhas do outono caindo, uma a uma, o tique-taque de uma contagem regressiva? Tenho certeza que sim. Espero ansiosamente que, quando puder ver a terra vermelha e seca, saberei que é hora de sair dessa tortura e retornar aos seus braços carinhosos. Ah, como sinto falta de sua pele!
O outono aqui deixa marcas nas árvores. Elas estão envelhecidas, cansadas, mas resistem persistentes à estação. Poderia exprimir assim minha situação. Faz algum tempo que me encontro longe de ti, mas sinto que séculos passaram e eu continuo esperando pela volta. Começo a ver rugas em mim. Ontem, achei um fio de cabelo branco dentre os outros, tão distintivamente negros. A distância entre nós não faz bem para meu físico e mente.
Porém, embora sinta meu corpo velho e cansado, meu amor por ti continua jovem, cheio de vigor. Todo o dia sei que a amo mais e mais. Essa crescente intensidade amorosa não me permite concentrar-me no aqui e agora, justamente o que mais preciso para voltar para seus braços. Pode imaginar o que sinto ao ver-me preso aqui, nesse inferno sem fim, pensando sempre em você? É uma tortura agonizante, maior do que qualquer uma cuja execução já foi realizada nos soldados que lutaram ao meu lado.
Pelo menos, tenho o conforto das memórias, que me tranqüilizam quando muitos estão aflitos e sozinhos. Sei que está a me esperar e, sempre que desanimo, o que acontece com certa freqüência, lembro de nossas noites juntos.
Há, porém, uma em especial, que cura qualquer dor que eu sinta. Lembra-te? Nós dois, juntos no leito, trocando carícias e beijos, demonstrando carinhosamente nosso afeto. Falamos de amor, paixão, desejo e conforto. Tocamos um ao outro a pele. Tomei algumas mechas suas com minha mão e as enrolei pelos meus dedos. Lembro-me de sua voz, doce, dizendo que me amava e a minha, embevecida, respondendo o mesmo. Enchemo-nos de júbilo e nosso corpo mergulhou na paixão. O quarto parecia desmanchar lentamente, deixando apenas nós dois e o leito, que também começava a apagar de minha visão. Meus olhos eram seus apenas. Por fim, não via nem a mim mesmo, mas seu corpo delgado e amado, pelo qual tenho tanto apreço. Aquela noite acabou com nossa fome saciada. O ar era úmido. Suava por todo corpo, compartilhava as gotas contigo. Beijamo-nos e dormimos, como se nada mais importasse.
Sei hoje que nada mais o faz. Aquele dia me marcou de tal forma que não consigo mais atirar sem antes recorda-lo. A única coisa que me mantém vivo nesse campo de ódio são as lembranças e expectativas de amor. Enquanto tantos morrem aqui, eu renasço ao ver nós dois novamente no leito, amando-nos. Posso eu dizer quanto sou grato por ter essa memória em minha mente?
Mas não me contenho com recordações apenas. Enquanto na minha mente vejo nós dois encobertos pelo amor, no campo de batalha vejo sangue, morte. Muitos já falaram e escreveram sobre a arte da guerra, mas eu não vejo sentindo nessa expressão. Nosso amor é uma arte. Essas árvores envelhecidas, com suas folhas vermelhas e secas, também são uma arte. Nossa noite juntos foi uma arte. Mas não vejo, de forma alguma, arte na guerra. De fato, pelo contrário, vejo a destruição dela no meio do combate.
Tudo que quero é sair daqui. Ter-me novamente contigo. Sinto saudades de ti, de nossos amigos, nossa cidade, nosso país. É tão frio nesse lugar. Estou cercado de pessoas, mas me sinto só. Todo dia é um novo medo. Tenho que acordar cedo, fazer vigília e marchar, receando uma bomba repentina. De quando em quando há uma invasão, uma armadilha, mas sempre sobrevivo. Será que terei a mesma sorte até o final da guerra? Não desejo morrer. Muitos aqui o querem, mas não eu. Meu sonho é voltar para o lugar de onde saí, de onde nunca deveria ter partido. Enganam aqueles que falam sobre a obrigação com a pátria, a honra de servir o país. Deveria saber eu de todas essas mentiras. Para que servir a pátria por um meio injusto, desumano e cruel?
Acordo pensando em ti, durmo pensando em ti. Se morrer aqui, saiba, portanto, que foi pensando em ti.
De seu eterno apaixonado:
Daniel

A volta dos estudantes

Não há arte maior do que um grupo reunido por uma causa em comum.
Os estudantes sempre fizeram parte da política no Brasil. Desde antes da metade do século passado, esse grupo já se organizava em manifestações a favor ou contra uma atitude ou proposta do governo. Mesmo durante a ditadura, repressiva e violenta, os jovens iam às ruas protestar e reinvindicar.
Não faz muito tempo que a UNE era a melhor representante dos estudantes. Ela gritou contra o governo militar, a favor das "diretas já", contra o Collor e a favor do impeachment do mesmo.
Não podemos, porém, mais contar com essa organização atualmente. A UNE hoje se mostra totalmente partidária, vendida e omissa em relação a todos os escândalos do governo vigente. Nem ao menos participou do movimento "Fora Sarney", criado e desenvolvido no meio estudantil.
O cúmulo, porém, deu-se há poucos dias, quando nenhum líder da organização mostrou-se realmente preocupado em relação ao ENEM. No início desse ano, sem diálogo algum com os estudantes e professores, o MEC decide criar uma prova para entrar no Ensino Superior, única para todo o Brasil, diferente do vestibular. Todos os colégios se prepararam às pressas para ensinar aos alunos como passar nesse novo exame.
Porém, às vésperas do final de semana no qual se realizaria a avaliação, o ENEM é adiado, em vista de seu roubo e tentativa de divulgação.
Como? Como um Ministério pôde ter sido tão desorganizado, tão irresponsável, a ponto de não conseguir guardar uma prova?
Esperando declarações da UNE, os estudantes se decepcionam ao ouvir as palavras "Muito grave, é necessária profunda apuração do roubo", vinda de um representante da organização.
Por isso, está sendo criado uma nova organização, a NOVE (Nova Organização Voluntária Estudantil), a fim de retomar os protestos e reinvidicações em relação a absurdos como esse.
A NOVE, apartidária, realizou nessa segunda-feira, um protesto no Centro do Rio de Janeiro, denunciando o grave desrespeito cometido pelo governo com os estudantes e professores de todo o Brasil nesse ano.
Esse é o marco da retomada do poder da voz estudantil. É a volta da união e participação consolidade de um grupo do qual os antigos representantes se venderam.
Viva à NOVE!

sábado, 3 de outubro de 2009

Parte de algo mal escrito

Percebi, de súbito, a ausência dos meus óculos. Menos devido à visão ruim e mais por saber da falta do pertence tão necessário, sem as lentes sou assaltado por terríveis enxaquecas.
Procurei à volta, olhando superficialmente pelo escritório. Nada. Não poderia achar a certidão com a minha visão míope.
Senti logo as dores mentais. Encolhi-me dolorosamente, coloquei a mão sob a testa e sofri com a dilatação das luzes. Amaldiçoei a situação, irritando-me com meu estado. Enxaquecas já tinham se integrado à minha rotina, diariamente era assolado por aquele mau. Não havia muito tempo que começara. Infelizmente.
Bocejei pesadamente e gritei pelo nome de minha filha. A resposta, para minha surpresa, não veio imediatamente, mas após uma longa pausa de silêncio absoluto.
- O que é, pai? – gritou finalmente em resposta.
- Procura aí na sala meus óculos.
Silêncio novamente. Poucos instantes se passaram e logo ouço em um grito:
- Hm... Não.
Dei-me por satisfeito a princípio. Porém, uma dúvida veio à minha mente, o que me provocou divagações razoavelmente perturbadoras. Afinal, minha filha havia negado a presença dos óculos na sala ou o meu pedido de procurá-los? Considerei-me de imediato um tolo por pensar tal crueldade atribuída a um parente tão próximo.
A dúvida, todavia, não se apagou. Como revelado anteriormente, um dos meus maiores defeitos é a facilidade com que uma questão simples pode se fixar na minha mente e causar-me efeitos assustadoramente devastadores.
Tentei, então, raciocinar nos sentidos sintáticos da pergunta. Embora a enxaqueca continuasse a assolar-me com as dores, consegui, em um período de tempo relativamente curto, concluir a ausência de opção correta. A ambiguidade era facilmente notada no diálogo e a negação poderia se dar nas duas alternativas anteriormente citadas.
Amaldiçoei minha filha, com enorme pesar, por não ter sido mais específica. Mergulhei em pensamentos malditos que, misturados à enxaqueca, transformavam-se em uma orgia mental já conhecida, da qual geralmente não resultam boas coisas.
O leitor obviamente deve questionar a razão pela qual não perguntara a Carla a resposta de minha aflitiva dúvida. De fato, não havia motivo algum. Creio apenas que, devido a uma relativa falta de intimidade com meus filhos e a reflexão exclusiva pela qual passava, não me viera a mente tal solução.
Julguei, por fim, que Carla negara-se a procurar pelos óculos. Refletindo melhor atualmente, não posso me creditar tanta certeza, tendo em vista a ambiguidade conflitante da pergunta e resposta. Porém, estava certo, no momento, de que minha própria filha havia se entregado ao ócio e à indiferença, roubando-me a oportunidade de achar minhas lentes e restabelecer uma visão , muito provavelmente, foi o começo de uma série de discussões com meus três filhos. Não tenho por que acreditar que não sou mais amado pela prole, mas não posso negar o fato de que as visitas tem sido pouco frequentes. Tolo fui ao conflitar por motivos tão corriqueiros. Pago o preço agora e encontro-me em profunda solidão.
Poderia, entretanto, ter sido diferente? Caso estivesse certo, minha filha cometera um ato terrível. Com 50% de chances de estar correto, tive razões para odiá-la naqueles instantes. Como cria minha poderia cometer tal absurdo? Analisando agora, creio que fiz correto. Deve-se ser rígido com a punição, mesmo quando passa a infância e adolescência da prole. Caso meus filhos tenham se tornado pessoas vis a ponto de chegarem a tal extremo, não foi devido à educação que tiveram. Em relação a isso, minha consciência permanece tranquila.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Parte do conto "Estranho Amor"

Silencioso e imóvel era aquele amor. Estranho, mas forte.
O garoto esperava impacientemente pelo elevador. Olhou o relógio, que, quase malignamente, mostrou com seus ponteiros a hora: seis e quarenta e dois da manhã. Atrasado. Mais uma vez.
Por que tinha comprado um relógio analógico? Lembrou de alguns de seus amigos, que tinham um relógio digital. Mais prático, simples. Aquele, além de extremamente difícil de distinguir os ponteiros, fazia um barulho insuportável. Não do tipo que se ouve enquanto conversa, mas que, quando se espera por algo, mostra-se constante e insuportável.
Naquele momento, enquanto o garoto esperava pelo elevador, o ponteiro dos segundos movia-se com maldita precisão, acusando cruelmente o atraso. Um, dois, atrasado, um, dois, atrasado. Tinha que comprar um relógio digital, sim, compraria um. Não aguentava mais ouvir aquele barulho. Um, dois, chega!
Apertou mais uma vez o botão de chamada. Finalmente os números do painel começaram a subir. Alívio, embora parcial. Os segundos ainda passavam no ponteiro. Um, dois, atrasado, um dois, atrasado. Quase em conformidade, os andares pelos quais o elevador passava corriam. Um, dois, está chegando. Por que era obrigado a morar em um andar tão alto? Os pais, infelizmente, tinham paixão por alturas, refletindo inclusive no lugar onde viviam. Se não fosse assim, poderia pegar as escadas, mas, devido à verdadeira situação, o ato seria praticamente insano. Era imprescindível que, assim que morasse sozinho, escolhesse um prédio pequeno, para, em casos de emergência, pudesse descer rapidamente os degraus dos fundos. Três andares deveria ter o prédio, quatro no máximo, e apenas se o primeiro fosse o térreo. Caso contrário, procuraria outra moradia.
Agora não faltava muito. O elevador não era lento, pelo que o garoto era grato. O atraso ainda podia ser vencido. E, assim fosse, logo compraria um relógio digital, extinguiria aquele barulho. Um, dois, chega!
Porém, surpresa, os números do painel não pararam naquele andar, mas continuaram subindo. Alguém que morava acima tinha apertado também o botão de chamada. Maldito! Desrespeitoso era aquele ato, mesquinho e cruel. Por que tinha que chamar o elevador quando outro, no andar abaixo, esperava por ele tão ansiosamente? Ah, mas o sujeito pouco se importava com a situação do vizinho. Era um balofo, provavelmente, um balofo cuja vida tanto lhe frustrara que sentia a necessidade de piorar o atraso de terceiros. Só poderia ser assim, nunca diferente. E o ponteiro continua a se mover. Um, dois, atrasado, um, dois, atrasado. Balofo egocêntrico.
E o elevador começou a descer. Sabia que, quando a porta se abrisse, veria aquelas bochechas gordas alargadas pelo sorriso, cheio de malícia. Mas revidaria. Seu olhar seria tão penetrante que os olhos arrogantes do balofo seriam atingidos e, em poucos instantes, se esquivariam. A briga estaria vencida, e o garoto sairia triunfante. Tinha de preparar-se, em poucos segundos o elevador chegaria, junto com a contagem do ponteiro. Um, dois, que vença o melhor.
O número do painel parou no andar. Por um instante, o barulho dos segundos extinguiu-se, dando lugar ao apito de aviso, que evidenciava a interrupção do movimento do elevador. Logo, as portas se abririam, mostrando o sorriso malicioso do balofo. Era melhor ter o olhar já acusatório ou assim formá-lo ao ver a cara do vizinho? Tinha de pensar rápido, caso contrário perderia a briga. Acabou por escolher a primeira opção, devido aos intermináveis conselhos dos pais e professores sobre a importância de se preparar para tudo. O olhar já estaria formado com as portas abertas e, antes que o balofo pudesse fazer algo, seria atingido nos olhos, desviando, assim, a cara gorda, o que daria vitória ao garoto.
O olhar estava formado. As portas abriram lentamente, junto com o ponteiro dos segundos. Um, dois, surpresa! Não havia balofo, sorriso ou malícia no interior do elevador. O tempo foi suficiente apenas para desviar rapidamente os olhos, permitindo que o erro não completasse. A briga foi perdida em menos de um segundo do ponteiro. Mas não havia com quem brigar.
Havia apenas uma garota. Seus cabelos eram negros e levemente ondulados. A estatura era baixa, mas não diminuía seu corpo perfeitamente curvado. Seus olhos castanhos negros tentavam esconder a timidez, às vezes olhando para a parede, às vezes baixando as pálpebras.
O garoto esqueceu-se de tudo. Não mais havia atraso, barulho ou balofo. Seu olhar, antes acusador, agora estava apaixonado. Sua inquietação continuava, mas pelo motivo mais encantador que poderia imaginar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quem eu sou?

Essa é a pergunta que muitos fazem.
Mas a questão é: eu sou?
Você não é nada sem seus sentidos, mas eles podem estar totalmente errados, não são confiáveis.
Mas se não temos mais nada, temos que usá-los como referência.
A razão geralmente está certa, mas do que adianta a soma estar correta se os números são os errados?

Eu sou Daniel Vasconcellos Archer Duque, prazer.
Sou um estudante, preocupo-me com a questão ambiental, gosto de literatura, política, filosofia, economia e física moderna.
Vou usar esse blog para postar alguns textos meus. Eles são horríveis, mas gostaria que alguém pudesse confirmar isso.