quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A cultura anticultura

Muito se fala da educação brasileira, nada exatamente bom. Porém, embora seja esse um assunto já popular, existe, há algum tempo, certo equívoco da sociedade em relação às responsabilidades do fracasso que é o nosso ensino.

O Brasil nunca teve como um forte a educação. Possivelmente, a história tem muito a nos responder o por quê. Com um passado de colônia de exploração, monarquia agrária e república conturbada, explica-se boa parte de nossa cultura quase como se “contra” as escolas. Já isso em muito influencia na democratização do “jeitinho brasileiro”, ao qual tantas vezes nos recorremos para resolver problemas do cotidiano.

Refiro-me, obviamente, não apenas ao ensino público, mas também ao privado, embora esse último seja razoavelmente melhor. O Estado é, afinal, governado por pessoas, que, apesar de todos os mitos, fazem parte da mesma cultura que nós, brasileiros. Se o governo não dá muita atenção a esse setor, também não o faz a sociedade no geral, pois ambos, incluídos no sistema capitalista, pensam nos custos, que são muitos, e nos lucros a curto prazo, que são poucos. Por isso vêem-se diariamente estudantes de classe média e alta, todos em colégios medianos ou até acima da média, que não dão importância às suas notas (o que se deve à falta de cobrança da família), começando a se preocupar apenas quando estão quase repetindo de ano, já na chamada “recuperação”. Esse quadro também é visto nas escolas públicas, embora de modo mais gritante.

Essa cultura anticultura (visto que a mesma é produzida apenas com instrução e aprendizado) reflete-se em diversos problemas que travam o desenvolvimento do país. Uma delas, a mais direta, é a falta de mão de obra qualificada, o que desestimula investimentos estrangeiros no setor da alta tecnologia e freia a própria produção científica brasileira. A segunda, mais genérica, embora ainda mais importante, é a falta de planejamento no crescimento da nação. O Brasil não age, mas reage. Isso se repete em toda história, como se visitássemos “um museu de grandes novidades”, parodiando Cazuza. O mais fundamental exemplo é a industrialização do país, que se deu em maior escala apenas quando o café deixara de ser tão rentável depois da crise de 29 e as importações tinham diminuído devido à Segunda Guerra Mundial.

Há algum tempo, isso vêm mudando. Há muitas críticas a se fazer referentes ao Governo Lula, mas deve-se entender que a educação correspondente ao seu poder (que estende-se diretamente apenas às universidades e escolas federais) melhorou até certo ponto. O número de profissionais com títulos de doutor e mestre, jamais foi tão elevado. Pela primeira vez na história, o Brasil atingiu a meta de formar dez mil doutores e 40 mil mestres por ano. Em 2006, 10.868 bolsistas de doutorado e 15.646 de mestrado contaram com o apoio da Capes, o que representa um aumento de 33% e de 32%, respectivamente, sobre os números de 2001.

Será, portanto, que a educação está de fato melhorando? Sim, mas parcialmente, afinal, o ensino médio e fundamental são até hoje péssimas, com raras exceções. Isso, porém, não é atribuição do governo Federal, mas do Estadual e Municipal. E são essas esferas do poder que dão maior descaso ao ensino, devido, também, à corrupção e falta de orçamento, mas principalmente à cultura anticultura.

A sociedade não vê como “produtiva” a educação básica, imaginando, equivocadamente, que não será ela que mais influenciará na luta pelo emprego. É nesse ponto que a população mais se engana. Sem saber bem ler, escrever, contar, somar, subtrair, como esperar um bom ensino médio, uma boa faculdade? Conversando com um professor de física do ensino médio, que também trabalha em uma escola estadual, soube de um caso em que, questionando a velocidade média de um carro, em movimento uniforme, que se desloca 100 quilômetros em uma hora (desprezando, é claro, forças como o atrito e resistência do ar), ouviu apenas o silêncio. Não é preciso cursar faculdade de física ou matemática para responder essa questão.

É necessária, portanto, a maior preocupação dos brasileiros em relação ao ensino médio e fundamental. Exigir dos governos Municipais e Estaduais uma boa educação é muito mais fácil do que fazê-lo do Federal. Desculpas, porém, serão sempre presentes. A falta de tempo e ocupação excessiva da população é, aparentemente, um sério problema nacional.

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