quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cap. 1: Sonho

- Matamos o tempo, o tempo nos enterra – Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis.

Sonhava estranhamente. É bem verdade que nunca tivera sonhos exatamente normais, porém aquele, logo aquele...

No começo havia apenas o nada. Se for necessária uma alusão, é bom que se pense no gênesis, antes de Deus, por algum enorme equívoco, dar início à criação. Em seguida, vejo a luz vermelha preenchendo todo o espaço. Palpitando irregularmente, a cor ofusca-me com sua vibração inerente. De repente, o escarlate absorve a realidade. Não só o vejo, mas o cheiro, ouço, toco, sinto. A sinestesia me atordoa e tento agachar-me e apoiar-me no chão. Percebo, então, que não há chão, braços ou pernas. Havia só o escarlate. Eu era o escarlate.

Encolho-me, de súbito, concentrando-me inteiro em um único ponto. À minha volta, nascem grandes colunas, semelhantes a obeliscos. Acho, então, estar girando, pois minha visão se move circularmente. Mas o erro é logo notado. Tudo roda, tudo gira, apenas eu permaneço parado.

E essa inércia acelerada permanece, com o constante movimento das colunas, que começam a apresentar fragilidade. Na minha eterna imobilidade, vejo, repetidamente, tudo desabar sobre mim. A situação, obviamente, é acompanhada pela quinta sinfonia de Beethoven.

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