quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cap. 3: Erro

Peço desculpas a algum leitor que, por imensa desventura, iniciara a leitura deste texto. De fato, creio tê-lo começado errado. Por um inexplicável motivo, contrariei princípios básicos meus tendo escrito as linhas precedentes a esse parágrafo. Explicarei a seguir ao leitor. Espero que, uma vez que já se lera até aqui, possa-se pelo menos entender meu erro nas próximas linhas e abandonar satisfatoriamente o texto.

Acredito que, no início de qualquer escrita, deve-se sempre explicar o motivo da mesma, justamente o que não realizei e pelo que suplico perdão. Em realidade, se me fosse possível, pegaria outra folha de papel e recomeçaria novamente. Infelizmente, essa possibilidade não me é concedida.

Vejo também que adicionei certos aspectos estranhos ao texto. Não gosto de poetizar, sou averso a lirismos, mas quando o leitor lê “sob a pálida luz do nascer do Sol” não duvida da intensão do autor de frutificar sua estória, dar-lhe aromas e cores, algo do qual tento me afastar. Jurei a mim mesmo que escreveria de forma crua, sem floreios. A falha, no entanto, dá-se logo nos primeiros períodos, em um importante entre vírgulas do meu texto. Analiso facilmente a ridicularização do ato.

A origem do erro, porém, devo afirmar que é legítima. Há tempos tenho essa imagem na minha cabeça, atormentando-me constantemente durante meu refúgio. Lembro-me visivelmente daquela luz ofuscante, como se transparente, incomodando meus olhos. Uma das mais belas vistas do mundo e um dos piores modos de acordar unidos em uma única situação. A praia de Copacabana é linda, de fato, mas não muito conveniente quando lhe foge a mente a necessidade de fechar a cortina antes de dormir.

O eventual leitor que, por algum infortúnio, continuou a leitura provavelmente se pergunta nesse momento se o motivo da escrita é, realmente, a imagem do nascer do dia no meu aniversário repetindo-se na minha mente, retornando quase que como em um curto círculo. Não, pelo menos não de todo. É fato que essa maldita manhã impulsionou-me a apressar-me a escrever o relato, porém já tinha essa ideia na cabeça há tempos.

São vários os motivos pelos quais resolvi contar minha estória. Um deles, o mais sério, é avisar à sociedade de um mau livre, rondando escondidamente pelas ruas do Rio de Janeiro. É preciso, sim, que o desventurado leitor saiba de minhas vergonhas passadas para que entenda a crítica situação à qual cheguei e a injustiça a qual sofri, justamente a inversa que se deu sobre o mau que continua a vagar pelos bueiros da população carioca.

O segundo motivo, o qual também devo dizer, é restabelecer a confiança em minhas memórias, que vêm decepcionando-me ao se enrolarem em várias voltas e amarras. Creio que, pela necessidade de organiza-las para escrever partes da minha vida, acabo colocando-as em ordem, podendo novamente adentrá-las sem medo de me perder em devaneios absurdos, o que vem ocorrido com frequência.

O resto, caso o infortunado leitor deseje continuar a leitura (e aqui se encontra um inevitável pleonasmo), será revelado.

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