quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cap. 2: Acordando

O sonho, então, se interrompeu. Acordei naquela manhã, sob a pálida luz do nascer do Sol, esfregando longamente os olhos. Esquecera novamente a janela aberta. Muito esperei deitado até perceber que o sono não retornaria. Sentei-me sobre a cama, de cabeça baixa, tentando lembrar de tudo que passara. Sim, claro. Era meu aniversário.

Lembrei-me aos poucos da data da qual tentava fugir, desesperado. No dia três de Setembro de 2007, completava exatamente cinquenta e cinco anos e via no espelho do quarto todos os meus fios de cabelo grisalhos. A primeira vista, tal fato não agrega tamanha importância, mas, durante toda minha vida, meu cabelo, de exuberantes mechas onduladas e escuras, foi o maior expoente de minha escassa beleza. Não foi sem motivos que sempre o conservei volumoso, embora não longo, o que eu realmente desprezo em um homem.

Retornando ao fato, estava eu a observar-me de frente ao espelho, procurando qualquer fio negro que fosse, sem êxito algum. Tal foi minha energia em achá-lo, que, do meu despertar até o momento em que percebi que só acharia o cinza naquelas mechas, tinham-se passado cerca de quarenta minutos, o que um infeliz leitor há de concordar que não é pouco.

Suspirei longamente, decepcionado com a falha da busca, imaginando se não seria tempo de artificializar-me. Porém, logo após poucos instantes, descartei a hipótese, não compreendendo como poderia tê-la nela pensado. Caminhei pesadamente até a janela e apoiei-me ao parapeito. Por alguns instantes fiquei a observar a extensa Praia de Copacabana, admirando-a e culpando-a pelas minhas olheiras. Abaixei a cabeça, olhando para o nada.

Vislumbrei, de súbito, algumas pessoas caminhando pela calçada da praia. Pequenas pessoinhas a andar pelo asfalto, em um horário extremamente inconveniente (acredito que não passavam das seis e meia da manhã). Tamanha incongruência atordoava-me, e acabei por devanear o que motivava aqueles seres a agirem de tal maneira, tão bizarra, tão... disposta. Eram poucas, é bem verdade, mas o suficiente para vê-las como um grupo desorganizado de formigas, vagando sem rumo para esquerda e direita, a fim de encontrar algum caminho. Creio que aquela situação enquadrava-se melhor a mim, mas a relação não foi entendida no momento em que ocorreu. Estava demasiadamente entretido nas formiguinhas para pensar em assuntos tão complexos.

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