segunda-feira, 30 de junho de 2014

Pondé costuma dizer que tudo que o jovem quer é se sentir parte de algo.

Talvez essa seja a aspiração inconsciente de todo ser humano, na verdade.

Estranho, então, essa contemporaneidade, na qual toda identidade externa é negada.

Não à toa somos a geração dos dístimicos: não nos sentimentos (nem queremos nos sentir) pertencentes a nada, e por isso perdemos qualquer chance de dar algum significado à nossa vida.

Pertencer-se a si mesmo apenas raramente é suficiente.
E os meses passam por 2014, tudo acontecendo comigo um pouco alheio, meio expectador do mundo.
Queria eu às vezes ser apenas expectador de mim mesmo.

Há às vezes esse ar que passa por mim. Me pega de surpresa, faz-me loucuras com a cabeça, e fico sem saber o que dizer.

Essa distração perene, esse tráfego árduo, toda dificuldade que eu tenho de me fazer entender comigo mesmo.

É muito complicado quando esse peso se mostra ali, debaixo do tapete, onde sempre esteve e você nunca percebeu. Às vezes é possível tirá-lo dali, às vezes já há muito volume para ser retirado, apenas ele só se desloca, silenciosamente, até você descobri-lo mais uma vez.

Talvez uma faxina geral seja preciso. A questão é que estou cada vez mais convencido que o problema é  endógeno: acabar com ele seria acabar comigo. Ele faz parte de mim.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Não desanimar talvez seja o único imperativo.
Somos feitos de matéria e sentimento, a fim de alcançar única e exclusivamente nossa humanidade. Se a felicidade é passageira, o viver é eterno. Se por vezes nos sentimos aquém dos vivos, resta-nos tentar ser felizes. Porque é assim, de fato, não há muito além que seja de alguma importância. Com risco de cair no clichê, a vida é feita para ser vivida. E, enquanto tentarmos, estaremos vivos.
Há pessoas lá fora tocando violão e cantando.
Foi sempre isso que eu quis.
Foi sempre isso que eu procurei.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Tríptico dourado fosco

Dora-se
Me parece pouco, com fosco, ofuscando o tonto, corando.
Não segue além, me segue aqui, comigo, esse seu rumo.
Dora-me
Adora me evitar, ama amá-la, amo vos amar.
Não me convém ser, mas conforme vem, sei, serei.
Dora-lhe
Há mais do que parece, há mais do que aguento
Âmago, hamas, carece de excesso, deixa-me exceder.




terça-feira, 10 de junho de 2014

Volúpia Rosa

Tudo que passou um dia ao largo retorna
De vago, crasso, novamente está de volta
Nada partindo sem deixar traço, abraço
Divago, claro, apenas sei que vou-me embora

Embora, embora não irei sem esse laço
Passo, Tudo isso é o que demora
Meu âmago, animus, insiste na memória
Amargo, trago, correndo tão antes ama(n)do

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Expiro sem inspiração, findando meu valor
Por vezes por vontade, mas nunca coerção
Não vou rimar com 'coração'.
Rio-me só quando rimo amor com dor


terça-feira, 3 de junho de 2014

Já escrevi isso aqui antes, em 2010.

Há algo de essencialmente belo na tristeza, algo que talvez a felicidade não carregue consigo.
A poética do sofrimento, que os budistas falharam em captar, é possivelmente uma força motriz da arte.

Mais uma vez, o que seria preferível: viver com arte ou sem tristeza?

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Não me erra

Sinto hoje sua pele na minha como se não nos separássemos pela manhã. A apartação, puramente corpórea, não se deu entre nossas almas, que continuam como uma.

A manhã se torna, assim, uma ruptura. Rompem-se meus sonhos da realidade, tão distantes então quanto meu corpo de meu desejo.

Restam-me intactas, no entanto, as lembranças de seus beijos, que vou beijando como se tivessem sido os últimos - e ai de mim quando assim o for. Minha mente toca novamente meu desejo, ligando o corpo à minha alma enfim. Sigo dessa forma até te rever sob o véu estrelado da noite.

Beijo-te para que possa lembrar sempre de seus beijos.
Lembro para poder unir, mesmo que por poucos segundos, meu corpo e alma novamente.