segunda-feira, 21 de julho de 2014

A contemporaneidade e o ironismo socrático

A sociedade contemporânea se vê em um vazio de projeto para o encontro da verdade. A desconfiança reina sobre os discursos científicos, relativizados por dúbios métodos estatísticos e sucessivas contradições de teses.

Diante disso, ressurge com força a máxima "Só sei que nada sei", do discurso irônico de Sócrates, aliado a uma profusão de recursos místicos e esotéricos para o alcance de, se não uma verdade, uma sugestão - algo para se escapar do vazio.

Todo conhecimento anterior foi posto em desconstrução através da questionamento e da ironia, e agora, diante da eterna dúvida, se amontam adeptos de estudos do zodíaco, do tarô e de qualquer âncora simbólica de caráter místico.

A chamada erosofia socrática ganha assim terreno sobre a filosofia platônica. Se antes a razão, a moderação e a objetividade levaria a humanidade a sua emancipação pela verdade, hoje o ser humano busca se guiar não pela luz (fora da caverna), mas por símbolos que lhe são mostrados e o qual cultua (dentro da caverna).

Os rituais dionisíacos de culto ao prazer e à fertilidade - extremamente caros a Sócrates - têm ainda especial força devido ao advento do feminismo do século XX, mas também servem de fuga ao vazio da contemporaneidade. A máxima "Dá-me vinho, porque a vida é nada", de Fernando Pessoa, vai de encontro ao culto à erosofia dionisíaca e se torna caro ao homem contemporâneo, que adota tal visão de mundo irônica, desconfiada, esotérica e mística.

(esse texto é uma explicação do meu outro texto chamado "Dionísio")

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