sexta-feira, 4 de março de 2011

As quatro estações (uma homenagem)

O amor a havia dilacerado. Perdeu-se entre monstros de sua própria criação, deixando-se cair na escuridão de um vazio de vida.

O sol queimava-lhe a pele enquanto andava sozinha por aquela rua tão cheia. Estátuas e paredes pintadas enfeitavam todo aquele caos urbano que a cercava. Tantas pessoas, tantas vidas, tantos sonhos, tudo junto em um espaço confinado de calor, sujeira e solidão. Já lhe era tão familiar aquele desespero silencioso, enterrado no barulho ensurdecedor de ônibus e carros atravessando a rua, como se sem direção.

Sentou-se em um banco de uma praça. O espaço, apesar de belo, estava infestado de defuntos que desconheciam a morte, vagando aos cambaleios sobre o chão infestado de pombos. Era como se tivessem mudado as estações. Tudo parecia mais triste, sem cor, sem ele.

“Eu sei que nada passou de um sonho.” – dizia a si mesma. – “Você dizia ‘ainda é cedo’, mas para mim os minutos lamentavam pelo desperdício que era passá-los sem você.”

Deixou-se levar pela decadente paisagem. A linha do horizonte a distraía, embora os prédios a impedissem de ver qualquer outra coisa se não suas cinzas estruturas. A imaginação, no entanto, a conduzia ao mais belo mar vazio, na solidão mais pura que pudesse desfrutar.

Há tempos que vivia daquela maneira. Nascera na mais aterrorizante pobreza, que acabou por levar seus pais à loucura pela necessidade. Desde nova teve que aprender a viver sozinha, embora estivesse sempre acompanhada. Ainda assim, não entendia como a vida funcionava, discriminação por causa de sua classe e sua cor. Ficou cansada de tentar achar resposta e, por fim, compreendeu que a vida servia apenas para se sobreviver.

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