terça-feira, 15 de novembro de 2011

A efemeridade da beleza

Abriu a porta devagar, para não acordá-la. Aos primeiros passos, porém, percebeu a presença de Helena, ainda de pé, olhando-se fixamente no espelho do quarto. Sua camisola, a mesma que comprara em Paris, não revelava por inteiro sua desejada pele, porém, deixava transparecer suas mais belas curvas, lembrando Fernando das noites em que haviam dormido sob o céu francês.

Aproximou-se lentamente, sem mais tentar disfarçar sua chegada. Posicionou-se atrás da mulher e começou a beijá-la suavemente no pescoço, enquanto desabotoava sua camisa.

- O que faz acordada tão tarde? - perguntou, sem se preocupar em receber resposta. Seu desejo já o havia conquistado, dilacerando seu pensamento. Tudo o que via agora eram as mais belas linhas femininas que imaginara ter para si. Helena, porém, perguntou, como se para o vento:
- O que você vai fazer se, daqui a dez anos, ainda estivermos juntos?
- Não entendi... - disse ele, não mais esperando ou desejando palavras ao ar naquele momento.

Ela não respondeu de imediato, mas fechou os olhos por alguns instantes. Após um leve suspiro e ainda sem mexer o pescoço, disse:

- Daqui a dez anos você terá 37 anos e eu, 40. Enquanto sua virilidade ainda estiver no auge, meu corpo começará a amolecer. Provavelmente já terei tido filhos, portanto, já não te darei tanto prazer quando você entrar em mim, além do que meus seios começarão a pesar sob a gravidade e começarão a cair. Meu rosto mostrará seus primeiros sinais de cansaço, com rugas e olhos curvados. Minhas pernas não serão mais tão fortes e não poderão te apertar contra mim quando seu corpo estiver sobre o meu... Mesmo assim, você ainda vai me querer?

- Acha mesmo que é apenas sua beleza que me atrai? - nem mesmo Fernando estava certo se sua pergunta era a que deveria fazer.

- Tenho certeza. Pode dizer que me ama, que quer estar para sempre comigo, mas sei que a única coisa que hoje o prende a mim é a minha beleza. É ela que te faz pensar em mim quando está trabalhando, é nela que você pensa quando está chegando em casa. É o medo de perdê-la que o impede de deitar-se com outras mulheres, menos belas do que eu. Todo o resto que existe em mim pode esquecer e substituir, mas minha beleza é sólida, você pode tocá-la. Esse toque estará sempre na sua lembrança, aprisionando-o na fidelidade.

- Por que me vem a falar dessas besteiras agora? - retrucou, quase irritado.

Novamente, a resposta não veio de imediato. Helena virou-se lentamente, ainda sem olhar nos olhos de Fernando, começou a abrir as calças que ele usava. Quando já se encontrava de pernas nuas, ela disse:

- Estava a pentear meu cabelo hoje e, enquanto ainda estava distraída, achei um fio branco entre meu emaranhado negro. Isso me fez perceber o quão efêmera é a beleza. Também o fardo que ela é. Ela esconde a minha alma, destrói a minha essência e hoje me transforma apenas em uma imagem a ser desejada. Amanhã, quando tudo isso passar, serei apenas uma lembrança.

Ela, então, finalmente olhou-o nos olhos e desceu as alças de sua camisola, mostrando todo o seu corpo nu. Fernando embriagou-se com a visão de seus seios pequenos, centralizados pelos mamilos discretos e levemente inclinados para cima. Descendo a vista, admirava o triângulo escuro entre aquelas lisas pernas, fazendo-o esquecer de toda a angústia de Helena e apenas querer descobrir mais uma vez os mistérios daquela mulher, aventurando-se dentro de seu corpo negro e belo.

- Ainda assim, amo-te. E enquanto puder prendê-lo em minha beleza, eu o farei - disse ela.

Naquela noite, amaram-se com tanta intensidade quanto a primeira vez em que se deitaram na mesma cama.

Nenhum comentário:

Postar um comentário