segunda-feira, 24 de junho de 2013

IBGE, Joana e você

Hoje me desliguei adiantadamente do IBGE por um engano do meu chefe e, sem que eu pudesse saber, acabou que o dia foi destinado às despedidas. Como tinha imaginado, ouvi muitos "adeus", desejos de sucesso, promessas de reencontro, tudo previsivelmente vazio e, até digo, descartável. A menos por uma pessoa, é claro. De fato, ao saber que eu estava partindo, Joana fez uma cara de surpresa e disse: "Mas já, menino?!".

Joaninha, como é chamada (provavelmente por sua baixíssima estatura), é a faxineira do meu andar, e foi a pessoa pela qual eu tive mais empatia desde quando entrei no IBGE. Todo dia, ao chegar às 8 da manhã, ou até mais cedo, era recebido por ela com um caloroso: "Bom dia, Daniel!"; para o qual eu sempre respondia na mesma entonação: "Bom dia, Joana!"; o que acabava me dando forças para aguentar as 4 horas seguintes fingindo estar fazendo alguma coisa. Por incrível que pareça, esse único contato - pois nossas conversas eram raras e limitadas a gostos pessoas de bebidas - foi o suficiente para, em pouco mais de seis meses, criarmos uma relação de amizade mais verdadeira e única do que a que tenho com muitas pessoas com quem estou diariamente em contato.

Após muitas reclamações da parte dela, afirmei que não tinha mais jeito, precisava seguir trabalhando mais e por mais dinheiro, o que no final acabou sendo compreendido. Por fim, ela me deu um grande abraço e um beijo - no ombro, porque é até onde ela consegue chegar -, o único que recebi nesse dia. Ela foi a última pessoa da qual me despedi, e acabei por me demorar demais para ir embora.

Se algum dia me perguntarem do que mais eu sinto falta do IBGE, não hesitarei em responder que minha saudade daquele lugar está sobre a cantoria esganiçada e desafinada de Joana pelos corredores, ou, quem sabe, de seus discursos absurdamente conservadores, deslegitimando quaisquer manifestações políticas, mesmo que pacíficas. Tenho certeza que esses detalhes são os maiores presentes que a vida nos dá, e que acabam sempre nos marcando no tempo.

Adeus Joana, até um futuro contato.

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Hoje concluí que, se é melhor para a situação nossa atual abstinência um do outro, então que se foda, deve valer a pena esperar por você, por sua voz lilás no meu ouvido, seus olhos de imensidão luminosa atentos aos meus, sua pele suave em contato com a minha. Eu aguento por mais algum tempo.


Um comentário:

  1. achei esse texto aqui e fiquei divagando: quantas joanas nos impressionam por aí... mas dps o tempo passa, se passa!

    mas sem diminuir. bom texto, boas memórias.

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