segunda-feira, 7 de abril de 2014

A vida é sofrimento

Essa seria a primeira das "quatro nobres verdades" do Budismo. Sua interpretação pode ser equivocada, se adotada uma perspectiva pessimista da mensagem. Seu significado revela cinco agregados do sofrimento relacionados à vida aos quais o ser humano se apega, fazendo-o sofrer.

O Dhamma, ou seja, a palavra de Buda, é uma orientação no sentido de o ser humano se livrar do sofrimento, por esse nos afastar da tal "felicidade estável".

Por que estou falando isso? Porque ao estudar o budismo, e assim sua inequívoca devoção à luta contra o sofrimento, surge-me a questão: é possível produzir arte sem esse sentimento?

Nietzsche, por exemplo, é um dos entusiastas da ideia de que o sofrimento é primordial à própria condição humana, dando sentindo e forma à existência. Por sinal, Nietzsche era um grande admirador da música, afirmando que sem ela não haveria motivos para viver. Por coincidência ou não, seu compositor favorito, e também seu grande amigo, era Wagner, um dos quais mais aprecio da música clássica (a qual, admito, nem tenho tanto entrosamento).

Há ainda um extenso número de filósofos e artistas que relacionam e pautam sua arte no próprio sofrimento. Goethe talvez seja o mais proeminente destes, escrevendo um livro tão intrinsecamente entrelaçado a esse sentimento - um verdadeiro capataz literário do pobre Werther - que inspirou toda uma geração de jovens germânicos ao suicídio. O próprio, no entanto, fez ressalvas ao observar o fenômeno, afirmando que enquanto escrevia acreditando refletir a vida, as pessoas o liam procurando mergulhar em tal reflexo.

Não foi só o Romantismo, obviamente, que bebeu da fonte do sofrimento. Mesmo quando a arte já tinha se desvincilhado em grande parte do cristianismo ocidental - que claramente cultua esse sentimento - os alemães caíram em profunda depressão com o Expressionismo, e a própria Arte Contemporânea nas suas primeiras décadas exibia um caráter pessimista e sôfrego da sensibilidade artística.

A História mostra que grande parte da arte ocidental sempre tangenciou o sofrimento humano. Portanto, renunciar ao mesmo talvez seja um caminho sem volta para a esterilização da capacidade artística, pelo menos no sentido que a entendemos. Será mais desejável uma humanidade que sofre e produz arte, ou uma humanidade feliz, mas artisticamente estéril?

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